quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Silas Malafaia: De herege a herói em 15 minutos


Quinze minutos. Foi mais ou menos isso que durou o debate sobre o PL 122, projeto que pretende instituir o crime de homofobia. Sim, quinze minutos; novecentos segundos que transformaram o antes herege, moderno vendedor de indulgências, em herói evangélico. Foram quinze intensos minutos, que conseguiram apagar da mente dos críticos que nada constroem, a farra dos 900 reais e a promessa de vitória financeira até 1 de Janeiro de 2010. Quinze minutos que deletaram de muitas mentes o conteúdo espúrio das últimas preleções, nas quais Silas Malafaia ensina a fazer barganha com Deus e chama de “trouxas” àqueles que fazem ofertas por generosidade e gratidão, não interessados no feedback que ele, Edir Macedo, Estevam Hernandes, Renê Terra Nova e RR Soares prometem aos que forem “liberais”.
Durante a semana passada, blogs, sites e twitters se focaram no importante debate, que seria realizado no palco de um dos piores programas da TV brasileira, perdendo apenas para o BBB. Todos apreensivos para saber como Silas Malafaia se sairia no debate com a ex-deputada Iara Bernardes, autora do projeto que, se aprovado, reduzirá em parte a liberdade de se pregar abertamente temas relacionados a homoafetividade, restringindo tais interpretações ao ambiente do templo. O pastor havia se preparado bem para o debate, e sua performance, pedantismo e gritarias costumeiras, acabaram por suprimir toda crítica, produzindo um colapso mental na deputada. Mesmo assim, Silas foi convincente e conseguiu provar que o projeto tem intenções espúrias, ou pelo menos, que carece de modificações.
Não estou me posicionando ao lado do PLC 122. Como já disse em outras oportunidades, entendo que o projeto carece de acurada revisão, de modo que não interfira na liberdade de expressão, opinião e credo. Porém, não podemos permitir que milhares de homossexuais sejam espancados e assassinados por causa da sua orientação sexual. Devemos ter para com eles o mesmo amor que temos com as demais minorias. Algo deve ser feio para prevenir e punir tais eventos, seja reforçando o teor de nossas leis, seja fazendo cumprir aquelas já existentes.
Mas este texto não se remete aos homossexuais. Ele também não está endereçado ao pastor Silas Malafaia. Na verdade, estas linhas são um apelo à consciência individual, e um protesto conta aquela mentalidade brasileira que em geral predomina na política e na religião, onde a parte lesada conclui: “É um picareta, mas faz!”. Não podemos nos deixar persuadir por uma retórica inflamada, nem pela vitória em um debate em programa de auditório. Silas ganhou um debate, mas isso não o converte em santo, nem apaga sua militância passada e presente em favor da Teologia da Prosperidade. Também não anula o fato dele ter empregado exatos 12 milhões de dólares, dinheiro arrecadado com a farra do Morris Cerullo e sua bíblia superfaturada, e investido em um luxo besta como a compra de um avião particular.
Tão insensato quanto criticar só pelo prazer da crítica, é justificar de forma acrítica uma pessoa cuja trajetória tem sido tropeço para todo povo evangélico, tudo em função de quinze minutos.

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