terça-feira, 2 de julho de 2013

Pode um cristão participar das manifestações contra as autoridades?



Manifestações-de-solidariedade-ao-Brasil-espalham-se-pelo-mundo-6Em decorrência das recentes manifestações nas ruas do país e nas redes sociais, alguns cristãos têm sido confrontados por seus pastores e irmãos quando tomam posição contrária aos Governos federal, estadual e municipal. O mote usado é o texto no qual o apóstolo Paulo recomendou “submissão às autoridades”, em Romanos 13.1: “Todos devem sujeitar-se às autoridades do governo, pois não há autoridade que não venha de Deus, e as que existem foram ordenadas por ele.”. Quero refletir, ainda que de maneira incompleta, sobre a questão.
Evidentemente este texto tem sido interpretado de modos distintos. Até onde vai o limite do Governo, “da autoridade”? Paulo submeteu-se cegamente a esses poderes?
Veja que dois versículos depois o texto dá a resposta mais imediata à questão quando diz sob que aspecto a submissão é requerida: “Porque os governantes não são motivo de temor para os que fazem o bem, mas sim para os que fazem o mal.” (v. 3) O papel da autoridade é colocar em vigor a justiça, a Lei e a ordem. O v. 4 diz isso explicitamente: “Porque ela [a autoridade] é serva de Deus para o teu bem. Mas, se fizeres o mal, teme, pois não é sem razão que ela traz a espada, pois é serva de Deus e agente de punição de ira contra quem pratica o mal.”. A “espada” é entendida como a própria pena de morte por alguns intérpretes, mas outros alegam ser a punição com maior rigor, enfim.
Mas, e quando o Governo pratica desmandos, quando é comprovado ilicitudes em sua gestão? E quando há injustiça por parte das mesmas autoridades? O mesmo Paulo, quando foi julgado por crime que não cometeu, não se submeteu, antes, apelou a Cesar (Atos 25.11). Ele desrespeitou seu próprio mandamento? Claro que não. Houve grande mobilização em função de sua apelação; um destacamento militar foi colocado à disposição do apóstolo, uma longa viagem teve de ser feita, ele ficou dois anos sob custódia do Império, tudo isso porque não aceitou as disposições legais contrárias a verdade a seu respeito.
Recentemente reli o livro de Ester, o qual mostra uma trama de morte contra o povo de Deus no Império Medo-persa. O que fizeram os judeus? Organizaram-se, jejuaram, mas manifestaram-se perante o rei. Ester enfrentou uma disposição real correndo risco de morte, uma vez que era proibido aproximar-se do rei sem a sua expressa autorização. No final, ela alcançou justiça e livramento para o seu povo.
No Brasil democrático temos uma situação distinta, pois que a democracia supõe o governo pelo povo e para o povo (em grego, democracia significa poder do povo). Obviamente o povo não governará, mas elegerá especialista para tal finalidade. Dentro do governo democrático, os mecanismos legais (lícitos) são os mecanismos políticos e as manifestações são direitos do povo (não confundindo com atos de vandalismo e violência).
Todo cristão é chamado a buscar a justiça, a igualdade, a paz, os recursos básicos para a sobrevivência do próximo (estou pensando em moradia, alimentação, saúde, segurança, educação etc.). E não somente para cristãos, mas para todo o povo. O próprio Jesus disse que Deus dá sol e chuva para justos e injustos (Mt 5.45), lembrando que “sol e chuva” afetavam diretamente a economia daquele povo, cuja base cultural eram a agricultura e a pecuária.
William Wilberforce (1759-1833), cristão e parlamentar britânico, no seu tempo, empreendeu luta árdua por grandes reformas sociais. Enfrentou incompreensões, calúnias, tentativa de desmoralização e desmobilização, reação dos poderosos e dos privilegiados, mas perseverou. Ele disse que “Deus Todo-poderoso colocou diante de mim dois assuntos: a abolição do comércio de escravos e a reforma dos costumes na Inglaterra”. Por toda a sua vida ele lutou por isso em sua carreira política. Se hoje a maioria das nações ocidentais oficialmente não tem escravidão, é porque ele lutou contra esse modelo. E não sejamos ingênuos em pensar que não houve reações dentro e fora da própria igreja. O comércio escravo mobilizava boa parte da economia, e quando “tocamos” no bolso dos ricos, nada acontece pacificamente.
O mesmo podemos dizer do pastor batista Martin Luther King Jr. (1929-1968), conhecido ativista político que mobilizou os Estados Unidos em favor dos direitos dos negros. E nós brasileiros do século 21 não podemos cometer a ingenuidade de pensar que Luther King tivesse dito: “Olha, por favor, vamos acabar com a segregação. Coitado dos negros. Vamos ajudá-los”. Não houve avanço algum sem que houvesse resistência. E a submissão às autoridades? Eram elas mesmas que segregavam, movidas por interesses culturais e econômicos – e até mesmo religiosos por parte de cristãos que usavam versículos bíblicos para defender suas posições, mas que por outro lado esmagavam os afrodescendentes.
Que dizer do pastor Dietrich Bonhoeffer, na Alemanha de Hitler, envolvido na operação Valquíria, que tramou a morte do ditador? Hoje contamos com alegria a sua história, mas onde fica a submissão às autoridades na vida de um pastor envolvido num caso como esses?
É preciso levar a questão também para o campo da ética, que busca o maior bem para o maior número de pessoas. Quando temos, hoje, igreja evangélica brasileira, diante de nós a oportunidade de exercer a cidadania pelos meios legais e lícitos da manifestação pacífica, seja nas ruas, seja nas redes sociais, não estamos transgredindo leis e desobedecendo a Bíblia. Antes, estamos buscando a justiça tal qual Jesus orientou (Mateus 5.6 e outros), um país melhor com distribuição de renda e oportunidade para todos, e não um modelo que privilegia os desvios de verbas e outros crimes comprovadamente demonstrados pelas investigações.
Entendo o temor que certos pastores e irmãos têm de desobedecer a Deus em função do poder secular, mas não é exatamente isso o que a história nos mostra em relação à participação do cristão na vida do seu país. Não podemos exigir que todos se envolvam, uma vez que nem todos refletem sobre as Escrituras com a mesma compreensão e nem todos têm vocação para assuntos dessa natureza, que claramente não é dos mais atraentes. Política não é para todos, como também o pastorado, o cuidado dos doentes, o envolvimento no ensino, etc. Mas o esforço e o envolvimento pela justiça e pela paz é. Cada um fique, portanto, na vocação em que foi chamado.

ELA ROUBA SUA FÉ E ASSALTA O SEU BOLSO: IGREJA MUNDIAL CRIA SEGURO “100% JESUS”



seguro valdemiroA Igreja Mundial do Poder de Deus ousa mais uma vez nos seus planos de marketing e não se cansa de usurpar a fé alheia. Usando o nome de Jesus para faturar sobre a ingenuidade dos cansados, o líder desta seita cria agora um seguro de residência e também auxílio funeral, chamado “100% Jesus”. Segundo ele, “o seguro que protege até o seu sono”, garante tranquilidade financeira do fiel e de sua família nos momentos difíceis e evita o desamparo. Segundo o “apóstolo”, o negócio é tão seguro como a sua fé.
Os anúncios são divulgados durante os intervalos da programação da Igreja Mundial nos canais UHF 21 (arrendado da Band), na própria Band e na RedeTV!
seguro valdemiro 3Sabemos que esta não é a primeira vez que a IMPD vende suas “indulgências modernas”. Nos últimos tempos Valdemiro já vendeu meias para abençoar os féis, tijolinhos de plástico em miniatura a R$ 200 a unidade, e agora apresenta esta inescrupulosa invenção.
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Os “estupros” espirituais não param por aí e não vão parar. Você duvida?
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Dica da minha amiga Mikaella Campos.

Parâmetros para medir o obreiro falso e o verdadeiro


Por João A. de Souza Filho

Que parâmetros podemos usar para identificar os obreiros falsos dos verdadeiros na igreja brasileira e mundial?
Neste artigo faço um resumo de alguns pontos de meu próximo livro, Profetas e profecias: A que horas estamos no relógio de Deus?
Precisamos de parâmetros bíblicos e históricos para identificar e separar os pregadores falsos dos verdadeiros. Onde estão as diferenças? Não se pode dizer que um obreiro é verdadeiro porque realiza milagres. Porque existem milagreiros usados por Satanás em ação nos dias de hoje, que podem estar presentes no seio da igreja! Muitos dos que curaram e expulsaram demônios em Nome de Jesus foram desqualificados como falsos (Mt 7.15-23).
Então, que tal pensar assim: Quando pregadores e profetas vaticinam um acontecimento, um milagre, uma cura, são verdadeiros. Certo? Não, porque muitos profetas no passado que não profetizaram em nome do Deus de Israel vaticinaram acontecimentos que se cumpriram, e, nesse critério eram falsos por não profetizarem em nome de Jeová.
É possível identificar se os atuais pregadores e alguns que se intitulam profetas e apóstolos são falsos ou verdadeiros, analisando-os à luz das escrituras e da história.
Nas escrituras temos parâmetros que nos permitem identificar e separar os falsos dos verdadeiros. Explico. São muitos os textos bíblicos tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. Comecemos pelos textos de Deuteronômio 13 e 18.
Deuteronômio 13 não trata especificamente de profetas falsos, como sugere o título que os revisores colocaram no início do capítulo, e sim de um profeta que anuncia um sinal ou um prodígio e o que ele anuncia se cumpre. “Quando profeta ou sonhador se levantar no meio de ti e te anunciar um sinal ou prodígio, e suceder o tal sinal ou prodígio de que te houver falado...” (Dt 13.1-2). O texto está afirmando que o profeta anuncia um milagre ou um acontecimento e este se cumpre. Ora, segundo Deuteronômio 18.22 o profeta é falso quando o que ele fala não se cumpre! “Saiba que, quando esse profeta falar em nome do Senhor, e a palavra dele se não cumprir, nem suceder como profetizou, esta é a palavra que o Senhor não disse...”.
1. Um pregador pode ser verdadeiro hoje e falso amanhã. O profeta é verdadeiro quando profetiza e tudo se cumpre. Certo? Sim, em parte. Porque o que ele fala pode se cumprir, mas, usar o seu dom para fins pessoais. Aí é falso, porque usa do cumprimento da profecia para chamar a atenção do povo para si mesmo, quando usa do milagre para desviar a atenção do povo para si mesmo ou para seus próprios interesses. No caso do texto de Deuteronômio 13 o profeta não é falso, mas torna-se falso quando usa dos dons de Deus para desviar as pessoas do propósito de Deus.
Portanto, atente para o estilo de vida do pregador ou profeta. Se este estiver usando dos milagres de Deus para enriquecimento pessoal, para adquirir fama e para criar seu próprio domínio territorial denominacional é falso! Porque as pessoas são alvos dos milagres, e passam a idolatrar o profeta e a contribuir para o enriquecimento de tal pessoa. Com base nisso é possível passar o prumo da palavra de Deus nos pregadores televisivos e nos apóstolos e profetas atuais.
Jesus destaca que o diferencial entre o falso e o verdadeiro não é a aparência ministerial (ilustrada na casa edificada sobre a rocha e a outra sobre a areia). As duas casas poderiam ser iguais, construídas pela mesma pessoa, mas uma tinha fundamento e a outra não. Ele trata disso também em Mateus ao falar dos que expulsam demônios, realizam curas em nome dele e, no entanto, são desqualificados no julgamento final.
Profetas bíblicos e não bíblicos anunciaram acontecimentos que se cumpriram.
Muitos profetas não bíblicos anunciaram fatos que aconteceram, existe, no entanto, um diferencial entre os profetas de Deus e dos demais profetas.
2. O verdadeiro profeta se preocupa com a justiça social e possui uma visão do propósito de Deus. Examine se o pregador ou profeta está adquirindo vantagens pessoais e não está distribuindo os recursos que angaria para ajudar os pobres e necessitados.
Os profetas e agoureiros do passado ocupavam-se maiormente em prever o destino das pessoas, sem se preocupar com a justiça social e com o bem-estar da população. Já os profetas de Deus não se ocupavam apenas em vaticinar o futuro, mas eram possuídos de uma paixão ardente pela vida de retidão, além de viverem reta e honestamente.
Balaão, profeta bíblico não era muito bom na prática da justiça, pois fazia previsões e usava de seu dom profético para obter benefícios pessoais – como certos pregadores de hoje que pregam a palavra para ganhar dinheiro – mas anunciou a vinda do Messias. Obviamente que este fato isolado não o coloca entre os profetas verdadeiros e incorre na condenação de Deuteronômio 13.
3. Os verdadeiros profetas possuíam uma visão salvadora e redentora da humanidade. Era isto o que os diferenciava dos demais profetas do passado, que viviam profetizando para satisfazer a vontade dos reis. Em resumo: os profetas que falaram em nome de Jeová preocupavam-se com a justiça social e sempre tinham uma palavra de esperança e uma mensagem redentora aos povos.
Esquilo, Sófocles e Eurípides eram apaixonados pela doutrina de Nêmesis e ensinavam o mesmo princípio bíblico de que Deus resiste aos soberbos, mas concede graça aos humildes. No entanto, sempre falavam de um destino terrível para todos os povos, sem nunca apresentar a solução de um Redentor como fizeram os profetas da Bíblia no Antigo Testamento.
Os profetas egípcios, chineses, caldeus, gregos e romanos do mundo antigo não falavam em nome de uma Entidade, de Um Eterno, como os profetas judeus, quem sabe guiados por espíritos de adivinhação.
Os antigos oráculos de outros povos também anunciavam a vinda de Cristo, mas não apontavam para a Redenção da humanidade. No reinado de Sésostro II (1906-1887 a.C.), um sacerdote de Heliópolis, no Egito, teve uma visão profética de alguém que será “o líder ideal, cujo advento ele aguarda, porque ele será o pastor de todos os homens, sem dolo algum em seu coração... onde ele está hoje?”.5 Milhares de anos antes de Cristo houve profecias de sua vinda por outros povos, falando de seus ensinamentos, da última ceia e da morte que haveria de lhe acontecer.
O profeta de Deus se diferenciava dos demais profetas porque possuía uma visão salvadora da humanidade, da justiça social e de um reino de glória.
Esclareceu-me este tema o livro Apologetics or Christianity Defensively Stated (Apologética e a Defesa Comprovada do Cristianismo) de A.B. Bruce, cuja terceira edição é de 1895 e que guardo como uma das relíquias da literatura cristã, pela preciosidade dos temas ali tratados. Para ser sincero usei as mesmas palavras dele como título do capítulo seis “otimismo profético”.
A.B. Bruce, exegeta que viveu no século XIX destaca que o profeta bíblico se diferencia dos demais pelo ardor de justiça e pela esperança que tem do futuro. As profecias bíblicas estão permeadas pelo espírito de otimismo, afirma o autor. A paixão por justiça e a esperança de novos dias fazem a diferença entre estes e os demais profetas.
Bruce destaca em seu livro a fonte das previsões dos profetas bíblicos. A esperança que tinham de dias melhores devia-se a fonte de suas previsões, pois enquanto os demais profetas recebem inspiração de fontes duvidosas, o profeta bíblico recebe diretamente da fonte que é Deus. A fonte das profecias não reside no temperamento do profeta nem na disposição mental que toma conta do profeta naquele dia, mas pela perspectiva que o profeta tem do horizonte que se estende diante dele. Quer dizer, o profeta bíblico não profetiza sob emoção ou conforme se sente espiritualmente naquele dia, mas porque tem uma visão do futuro glorioso de Deus na terra. Suas profecias são frutos da comunhão e intimidade com Deus e da visão que Deus lhes dá do futuro.
4. Os verdadeiros profetas e pregadores vivem uma vida de renúncia, e têm em mente o propósito eterno de Deus para com o homem e com o mundo. Quando profetizam não buscam alimentar nem favorecer suas próprias paixões, desejos e tentações.
A fonte verdadeira da palavra profética está na intimidade que o profeta tem com Deus, pois ao profetizar uma catástrofe ou um acontecimento trágico o caráter divino da graça de Deus tem preeminência nas profecias. Para os profetas bíblicos, Deus era mais que um governador moral, não apenas alguém que trabalhava a favor da retidão, mas Alguém que ajudava as pessoas a terem uma vida reta. A graça tem por finalidade a justiça divina.
5. O verdadeiro profeta é otimista em relação ao futuro, apesar da desgraça que se avizinha.
Os profetas bíblicos eram otimistas por pregarem a respeito de um Deus que não favorecia apenas os judeus, mas a toda humanidade. Diferentemente de muitos pregadores hoje que amam somente os judeus e a terra de Israel e desprezam os demais filhos de Abraão. Deus buscava a salvação de pessoas até os confins da terra. Assim, o otimismo profético residia na manifestação da graça de Deus a todos os povos e não apenas aos judeus.
Para os profetas pagãos a era de ouro ficou no passado, para os profetas hebreus a era de ouro está por vir. Assim, o profeta cria diferentemente dos poetas e filósofos pagãos, porque sempre tinha uma ótica da bondade e misericórdia de Deus.
Alguns profetas de hoje na igreja assemelham-se aos pagãos, pois não possuem esta perspectiva de um Deus de esperança, e anunciam o futuro pela maneira como vivem o presente.
O otimismo profético vai além das circunstâncias presentes, como no caso de Habacuque, que pergunta a Deus por que a violência continua, e Deus lhe responde que a violência aumentará. Deus não deu sequer uma pista de prosperidade ou de solução para o profeta, no entanto, o profeta no fim do capítulo três declara: “Ainda que as figueiras não produzam frutas, e as parreiras não dêem uvas; ainda que não haja azeitonas para apanhar nem trigo para colher; ainda que não haja mais ovelhas nos campos nem gado nos currais, mesmo assim eu darei graças ao Senhor e louvarei a Deus, o meu Salvador. O Senhor Deus é a minha força. Ele torna o meu andar firme como o de uma corça e me leva para as montanhas, onde estarei seguro” (Hc 3.17-19).
O otimismo profético está no anúncio de um final glorioso para o povo, e é aqui, basicamente que as profecias dos profetas bíblicos são diferenciadas dos profetas de outros povos que falavam de desgraças e calamidades, mas não anunciavam um fim glorioso.
Profetas e videntes, sem ser judeus ou cristãos acertaram em seus prognósticos, mas nem por isso foram profetas verdadeiros porque suas profecias se cumpriram. Ao longo da história, muitas profecias proferidas por pessoas que não conheciam o verdadeiro Deus como nós conhecemos e não foram inspiradas pelo Espírito de Deus como acreditamos, cumpriram-se totalmente. Estes profetas são falsos porque não profetizaram a redenção dos povos, usaram do dom da profecia para induzir os povos a adorar outros deuses (até a eles mesmos), e não o Deus dos deuses, e não acenaram nem praticaram justiça social.
Um profeta ou pregador é falso quando não possui uma visão divina de justiça social, de amparo aos pobres e de cuidado com os mais necessitados. Bem ao contrário usam do ministério para se enriquecer e para criar e manter suas próprias instituições com verbas milionárias.
Conforme Deuteronômio 13 o profeta é falso não porque anunciou um milagre e este não se cumpriu; ao contrário, o milagre ou sinal que vaticinou aconteceu, e neste sentido não deveria ser considerado um profeta falso, pois o milagre aconteceu. O que o torna falso é que ele usa o dom da profecia, a capacidade de produzir milagres e prodígios para levar o povo a se desviar de Deus, buscando outros deuses ou seu próprio interesse. O texto é claro: o que ele anunciou aconteceu, mas não deve ser ouvido porque induz as pessoas a se desviarem de Deus. Para os judeus, o próprio Deus permitia que isto acontecesse para provar o coração do povo, se o povo era fiel ou não a Deus.
Neste sentido, podemos incluir na nossa reflexão muitos operadores de milagres, pastores e evangelistas que são supostamente usados por Deus, mas o que os coloca em pé de igualdade com os falsos é que buscam seus próprios interesses e não os de Cristo. Jamais devemos esquecer que a prática da justiça não é apenas ajudar os pobres e necessitados, mas também o de denunciar políticos e organizações criminosas que oprimem e atacam os mais fracos. A prática da justiça inclui também o compromisso de usar os dons de milagres e dons de profecias para levar as pessoas à salvação, ao arrependimento e mudança de vida, jamais usando os dons para enriquecimento ilícito, nem os talentos dados por Deus para proveito próprio.
É neste quesito importante citado por Moisés em Deuteronômio 13 que Paulo se apegou para condenar alguns apóstolos de seus dias. Eram homens que também operavam milagres e eram aceitos pelo povo como pessoas de Deus, mas não viviam na prática da justiça como Paulo, de maneira humilde, que não buscava proveito próprio. Paulo afirmou que eram falsos apóstolos, obreiros fraudulentos que se transformaram em apóstolos de Cristo. Não se deve pensar que o pregador falso é apenas o que prega heresias; mas porque seu estilo de vida não é de acordo com o estabelecido por Jesus Cristo.
E até possível incluir entre os falsos os que usam da teologia da prosperidade para enriquecimento pessoal. Existe uma prosperidade que faz parte da essência do evangelho, diferentemente da que vem sendo pregada abertamente nesses dias.
Jesus fala a respeito daqueles que no dia do juízo dirão: “Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade” (Mt 7.22-23). Jesus não está negando o poder de realizar milagres, nem está sugerindo que os que praticam milagres e expulsam demônios são incluídos na classe dos rejeitados, nada disso. Jesus está falando que, apesar de realizarem milagres, tais pessoas foram reprovadas por viverem na prática da iniqüidade, o que nos leva a considerar e a refletir se o estilo de vida que levamos não anulará os feitos milagrosos que operamos.
Ao que parece, nas palavras de Jesus, a iniquidade e a prática do pecado anulam, diante de Deus as obras que fazemos, e apesar de ainda exercitarmos os dons, seremos julgados no dia do juízo, não porque fizemos grandes obras, mas porque vivemos na prática do pecado.
Quando examinamos a história da igreja encontramos homens e mulheres que foram instrumentos de Deus, usados na palavra profética, fazendo previsões que se cumpriram ao longo dos anos. Existiram monges, abades e padres que viviam de maneira santa e reta, comprometidos com o Nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Um destes homens, Malaquias, fez profecias em seu tempo que continuam se cumprindo. Trato das profecias de Malaquias num artigo em meu site.

Há ainda algum profeta do Senhor para consultar?

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Por Julio Brunhara

Estamos em cerca de 850 antes de Cristo. O reino de Israel está dividido entre Reino do Norte e Judá. Em Judá reina Josafá, um bom rei. Em Israel o infeliz e idólatra Acabe, marido da pérfida Jezabel.

Acabe faz uma aliança com Josafá e pede a ele ajuda para libertar Ramote-Gileade das mãos da Síria. Juntam seus exércitos e colocam-se em linha de batalha. Antes de partir, contudo, o crente Josafá pede a Acabe para que consultem a Palavra do Senhor. Acabe manda trazer 400 falsos profetas. Estes, com grande veemência, eloquência, persuasão e energia, dizem para eles que a batalha será um sucesso, que destruirão os sírios e que voltarão cobertos de vitória. Acabe ouve e se dá por satisfeito, crédulo e simplório. Josafá, contudo, incomodado por só ver falsos profetas, faz a pergunta crucial:
Disse, porém, Jeosafá: Não há aqui ainda algum profeta do Senhor, ao qual possamos consultar? (1 Reis 22:7)
Acabe, então, diz:
"Tem sim, mas ele só profetiza coisas ruins a meu respeito, por isso o aborreço" (1 Reis 22:8)
O Rei Josafá, depois de repreender Acabe ("não fale o rei assim..."), aguarda a chegada do único autêntico profeta de Deus ao palco dos aduladores e mentirosos. Micaías era o seu nome. E, como já podemos deduzir, foi o profeta do caos, trazendo a mensagem de destruição, morte e desgraça para Acabe e seu exército, fato que se cumpriu integralmente.

A pergunta do Rei Josafá é mais atual do que nunca: NÃO HÁ AQUI AINDA ALGUM PROFETA DO SENHOR?"

Desde que Norman Vicent Pearl trouxe a junção da filosofia do pensamento positivo ao evangelho, os profetas deste tempo não cessaram de aumentá-la e distorcê-la. Com o advento do neopentecostalismo e do catastrófico desenvolvimento que teve nos últimos dez anos, tornou-se absurdamente ridícula a prédica dos supostos profetas de Deus nos púlpitos, nas televisões, nos rádios, jornais, revistas e gabinetes.

"Eu profetizo vitória em nome de Jesus"; "Eu determino a bênção em tudo o que você puser a mão"; "Eu amarro a Satanás e decreto prosperidade em seus negócios"; "Ninguém poderá resistir a você"; "a unção de conquista está derramada sobre tua vida"; "receba agora a unção de Neemias com a bênção de Jó", etc. Chega a ser enojante conversar com certos cristãos, cuja fala se manifesta tão egocêntrica, tão falsa, tão absurdamente jactanciosa, com fraseados cunhados pelos malditos apóstolos destes dias: "Eu tenho a unção de conquista; eu determino a restituição de tudo o que o Diabo tomou; já sou mais que vencedor e nenhum mal chegará à minha vida; eu rejeito a carestia e profetizo sobre mim mesmo a glória e a vitória".

Basta ler um pouquinho de Bíblia para se notar que a prédica "neopentapostólica" (se me permitem cunhar um termo para essa mesquinharia) é a mesma dos profetas de Baal que decretaram a vitória de Acabe, vitória que não se concretizou. O único profeta "ruim", que sofria na mão do péssimo Acabe, foi o autêntico porta-voz de Deus para um império idólatra e pervertido.

Mas o povo evangélico em sua vasta maioria, pervertido pelos baalistas modernos, não tem ouvidos para escutar. É incrível como se torna veementemente necessária a afirmação categórica do Senhor: "QUEM TEM OUVIDOS PARA OUVIR, OUÇA!" Geralmente se escuta, mas não se ouve. Aliás, só se ouve o que se quer ouvir. Vitória, restituição, unção, prosperidade, cura total, liderança absoluta, é tudo o que se ouve nos púlpitos. Pecado? Plano de salvação? Conduta moral? Obras da carne? Fruto do Espírito? Doutrinas básicas da fé? Não, isso "não vende"! Foi o que ouvi de um empresário famoso, "dono" de outro cantor famoso que explode em sucesso no nordeste brasileiro, fazendo "shows" pelo sudeste com músicas de chorar. "Não deixo cantar nada que encalhe na loja; só o que o povão de Deus quer ouvir". Ah, Acabe, Acabe, quando é que você irá "acabar"...

Haverá ainda algum profeta do Senhor para consultarmos? Haverá alguém sério nesse mar de lama e miserabilidade espiritual? Nossos líderes apóstatas conseguem forçar o governo a decretar FERIADO ANUAL PARA A MARCHA PARA JESUS, mas não são capazes de deter sua própria corrupção, luxúria e promiscuidade! Lutam pelos canais de TV como verdadeiros astros de luta livre, zombando dos dons do concorrente, buscando fatias maiores de adeptos, e o autêntico evangelho vai sumindo no mar, navegando cada vez mais distante de todos!

"Mas eu recebi o milagre! A palavra se confirmou! Deus honrou!" Pobre e ignorante crente analfabeto de bíblia! Nos últimos dias Deus PERMITIRIA o cumprimento de milagres, sinais e maravilhas na vida daqueles que rejeitassem a verdade de Deus, pois, segundo o Espírito Santo, já que rejeitaram a verdade, então que tivessem a operação do erro para a morte, uma vez que rejeitaram o entendimento.
"E por isso Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira;" (2Ts 2:11).
Sinais e maravilhas não são credenciais do Espírito Santo (os magos de Faraó também operavam coisas espantosas); verdade e dignidade sim. Por isso os que ainda ousam pregar a verdade estão sendo escurraçados das grandes denominações, acusados de retrógrados, de geniosos, de melindrosos, de saudosistas. Ah, MICAÍAS, profeta sofredor, profetizou sozinho para Acabe à pedido do Rei Josafá, e, à despeito de 400 falsos profetas "de poder", só a sua palavra se concretizou.

Você é profeta, leitor? Então profetize O QUE A BÍBLIA DIZ, não o que A MÍDIA QUER ou o seu FALSO APÓSTOLO manda. Quando falta o poder e a seriedade à mensagem, introduz-se a idolatria no meio do povo de Deus. Foi assim com os hebreus no deserto na adoração do bezerro de ouro, foi assim com o Reino do Norte e seus dois bezerros, foi assim com os cristãos romanos ao longo dos séculos, e agora é assim com os falsos profetas do evangelho, que introduzem ARCAS DE DEUS, MARTELOS DA VITÓRIA, CORRENTES PARA QUEBRAR, PÃO DE DORES PELO PÃO DE CRISTO, SAL GROSSO, TROCA DE ANJOS DA GUARDA, etc. É a volta para o passado, não para um judaísmo apenas, mas para o BAALISMO e o Reino de Satanás.

Ó Rei Josafá, sua pergunta ainda não tem resposta:
"HAVERÁ AINDA ALGUM PROFETA DE DEUS PARA SE CONSULTAR?"

Que Deus tenha pena de nós.

A Igreja de Laodicéia e a Igreja de Hoje


Por Pr. Silas Figueira 
“Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio ou quente!” Ap 3.15

“Conheço as tuas obras...”
           
Quando o Senhor disse para a igreja de Laodicéia que conhecia as suas obras, Jesus queria dizer que tinha profundo conhecimento do estado dessa igreja, e o que Ele viu em nada lhe agradou.

A carta aos Laudicenses não contém nem um elogio, nem críticas por ensinos falsos ou imoralidade. O problema dos Laodicenses era que eles não eram nem frio nem quente. Eles não tinham a frieza da hospitalidade ao evangelho ou a rejeição da fé; mas também não tinham o zelo e fervor (At 18.25; Rm 11.11) [1]. O problema da igreja de Laodicéia não era teológico nem moral. Não havia falsos mestres, nem engano. Não há na carta menção de hereges, malfeitores ou perseguidores. O que faltava à igreja era fervor espiritual. A vida espiritual da igreja era morna, indefinível, apática. A vida espiritual da igreja era acomodada. O problema da igreja não era heresia, mas apatia [2].

“... que nem és frio nem quente...”

A cidade de Laodicéia não possuía suprimento de água próprio, mas tinha que ser servida por aqueduto, que vinha de Hierápolis e Colossos. A água de Colossos era muito gelada e a de Hierápolis era muito quente, mas como percorriam uma distância muito grande nem chegava fria e nem quente, mas chegava morna. As águas termais de Hierápolis ajudavam no tratamento de alguns problemas de saúde. As águas frias de Colossos eram boas para beber. Dessa forma, a igreja de Laodicéia não estava oferecendo nem refrigério para o cansaço espiritual nem cura para o doente espiritual. Era totalmente ineficaz e, assim, desagradável ao Senhor. As águas mornas de Laodicéia basicamente não serviam para nada; só davam ânsia de vômito!
            
Talvez nenhuma das sete cartas seja mais apropriada à Igreja do final do século vinte [e início do século vinte um] do que esta. Ela retrata nitidamente a religiosidade respeitável, nominal, um tanto sentimental e superficial tão difundida entre nós atualmente. Nosso cristianismo é frouxo e anêmico [3]. Desconfio que não seja pequeno o número de pessoas em nosso país que acreditam que não fazer nada de mal é suficiente para que Deus esteja satisfeito. Essa é uma das mais diabólicas mentiras que afetam a vida dos cristãos. Para agradar o coração de Deus não basta afastar-se do mal, é preciso aproximar-se do bem. Podemos passar um verniz de crente em nossas vidas até convencer as pessoas de que somos supercrentes, mas não vamos conseguir enganar a Deus, que tudo vê e tudo conhece [4].     

“... Quem dera fosses frio ou quente!”

É mais honroso ser um ateu declarado do que ser um membro incrédulo de uma igreja evangélica [5]. A indiferença é pior que a frieza. Jesus disse em Mateus 5.37: “Seja, porém, a tua palavra: Sim, sim; não, não. O que disto passar vem do maligno.”
                                  
3.16 – “Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca;”         

Por ser morna a igreja de Laodicéia estava a ponto de ser vomitada pelo Senhor. O termo vomitar no grego é emeo, cuspir ou vomitar. Desse termo é que se deriva o vocábulo moderno emético, um agente que causa vômito [6]. Uma pessoa morna é aquela em que há contraste entre o que diz e o que pensa ser, de um lado, e o que ela realmente é, de outro. Ser morno é ser cego à sua verdadeira condição de alguém [7]. Assim era a igreja de Laodicéia, uma igreja indiferente ao seu estado espiritual. A enérgica expressão de Cristo é de aversão. Ele repudiará totalmente aqueles cuja ligação com Ele é puramente nominal e superficial [8].

3.17 – “pois dizes: Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu”.

“pois dizes: Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma...”

O autoengano é uma grande tragédia. Laodicéia considerava-se rica e era pobre. Sardes se considerava viva e estava morta. Esmirna se considerava pobre, mas era rica. Filadélfia tinha pouca força, mas Jesus colocara diante dela uma porta aberta. O fariseu, equivocadamente, deu graças por não ser como os demais homens. Muitos no dia do juízo vão estar enganados (Mt 7.21-23). A igreja era morna devido à ilusão que alimentava a respeito de si mesma [9].

A igreja de Laodicéia avaliava a si mesma segundo os padrões de riqueza material, pois estava imersa na mentalidade do mundo. Essa igreja tanto estava no mundo como fazia parte do mesmo. Por essa razão é que era totalmente ignorante a sua verdadeira situação espiritual [10]. Por ser a cidade de Laodicéia uma cidade muito rica e orgulhosa, os cristãos contraíram a mesma epidemia. Os membros dessa igreja tornaram-se convencidos e vaidosos. Não há nenhuma diferença em relação a igreja atual. Quantas igrejas se julgam melhores que as outras por terem melhores condições financeiras, pensam que por estarem bem melhores localizadas são superiores as outras. Esse mesmo espírito que agia na igreja de Laodicéia ainda age nos dias de hoje em muitas igrejas e ministérios. As bênçãos do Senhor são medidas na vida de muitos ministérios e de muitas pessoas pelo o que essas pessoas ou ministérios possuem e não por terem uma vida na presença de Deus. O apóstolo Paulo escrevendo à Timóteo diz:

“Exorta aos ricos do presente século que não sejam orgulhosos, nem depositem a sua esperança na instabilidade da riqueza, mas em Deus, que tudo nos proporciona ricamente para nosso aprazimento; que pratiquem o bem, sejam ricos de boas obras, generosos em dar e prontos a repartir; que acumulem para si mesmos tesouros, sólido fundamento para o futuro, a fim de se apoderarem da verdadeira vida.” (1Tm 6.17-19).

“... e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu”.

A igreja de Laodicéia era morna em seu amor a Cristo, mas amava o dinheiro. O amor ao dinheiro traz uma falsa segurança e uma falsa autossatisfação. A igreja não tinha consciência de sua condição [11]. Na realidade ela é um mendigo cego, sem recursos, vestido de trapos. A palavra “nu” pode significar insuficientemente trajado [12]. Esta é a visão de Cristo a nosso respeito se somos como esses cristãos nominais, que não assumem um compromisso fervoroso com Ele. Moral e espiritualmente, tais indivíduos, são nus, mendigos e cegos. São mendigos porque não tem como comprar seu perdão ou passaporte para o Reino de Deus. São nus porque não têm roupas adequadas para se apresentarem diante de Deus. São cegos porque não conseguem enxergar sua pobreza espiritual nem o perigo espiritual em que se encontram [13].

3.18 – “Aconselho-te que de mim compres ouro refinado pelo fogo para te enriqueceres, vestiduras brancas para te vestires, a fim de que não seja manifesta a vergonha da tua nudez, e colírio para ungires os olhos, a fim de que vejas”.

“Aconselho-te...”

A única coisa boa em Laodicéia é a opinião da igreja sobre si mesma e, ainda assim, completamente falsa. Ela tem a pretensão de ter todas as coisas, mas ma realidade não tem nada [14]. Devido a essa falsa opinião que ela tem de si mesma, o Senhor se coloca diante dela para aconselhá-la. Cristo prefere dar conselhos em vez de ordens. Sendo soberano do céu e da terra, criador do universo, tendo incontáveis galáxias de estrelas na ponta dos dedos, tendo o direito de emitir ordens para Lhe obedecerem, prefere dar conselhos. Ele poderia ordenar, mas prefere aconselhar [15].

A igreja que recebeu o julgamento mais severo de todas, recebe também os conselhos da maior misericórdia. Por pior que seja uma comunidade, ela é sempre uma luz, não por mérito próprio, mas por causa da misericórdia de Jesus, que está sempre pronto para corrigir, perdoar e aconselhar.

“... que de mim compres ouro refinado pelo fogo para te enriqueceres...”

Não devemos perder a ênfase que está posta nas palavras “de mim”. Isto estava acima de tudo o que os laodicences tinham de aprender. Eles consideravam-se autossuficientes; deveriam humildemente encontrar sua suficiência em Cristo [16]. A vida espiritual de Laodicéia era como bijuteria, cujo aspecto é de semelhança, mas na realidade é falso, sem qualquer valor [17]. Jesus retratou o Reino do Céu como um tesouro enterrado em um campo que um homem comprou, e como uma pérola de grande valor que um comerciante comprou com dinheiro (Mt 13.44,45). Isto são comparações que descrevem o valor inestimável das bênçãos do Reino dos Céus. Neste versículo Cristo está exortando a igreja que procure as verdadeiras riquezas – ouro refinado pelo fogo, que não perde o brilho [18]. Jesus está indubitavelmente usando a linguagem apropriada à mentalidade comercial dos laodicenses. Cristo se compara a um mercador que visita a cidade para vender as suas mercadorias e entra em concorrência com os outros vendedores. “Aconselho-os a abandonar os seus antigos vendedores”, diz o mercador divino, “e vir negociar comigo”. Talvez Ele esteja também pensando no convite de Yahweh: “Todos vós os que tendes sede, vinde às águas; e vós os que não tendes dinheiro, vinde, comprai, e comei. Sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite” (Is 55.1) [19].

“... vestiduras brancas para te vestires, a fim de que não seja manifesta a vergonha da tua nudez...”

Laodicéia era um grande centro da indústria do vestiário, na antiguidade. Os crentes dali se vestiam com elegância, mas espiritualmente estavam nus [20]. Estas vestes brancas representam referem-se à justiça dos santos (Ap 19.8).

“... e colírio para ungires os olhos, a fim de que vejas”.

Os olhos dos crentes de Laodicéia estavam fechados devido à doença espiritual que eles haviam adquirido. Jesus os exorta a lavar os olhos com o colírio que Ele tinha a oferecer e não o colírio que a cidade fabricava, pois o colírio que eles fabricavam era bom para as doenças físicas, mas para a doença espiritual só o colírio de Cristo. Somente Jesus tem o colírio que pode curar a cegueira espiritual tanto da igreja de Laodicéia quanto da igreja atual. Só assim eles poderiam ver o estado deplorável que a igreja se encontrava. A igreja de Laodicéia estava infeliz, miserável, pobre cega e nua, no entanto, não conseguia ver isso. A cegueira espiritual nos impede de ver a verdade, pois como nos fala o apóstolo Paulo em 2Co 4.4:

“o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus”.

Todo o aparato e luxo de vestir o corpo não valem coisa alguma; o que vale é o incorruptível traje espiritual (1Pe 3.4), que esconde a nudez espiritual.

3.19 – “Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te.”
 
A essa igreja morna, infeliz, miserável, pobre cega e nua o Senhor dirige uma palavra de extremo amor. O Senhor a chama ao arrependimento.

Disciplina é um ato de amor. Inegavelmente é porque anseia salvá-los do juízo final é que repreende e disciplina. A base da disciplina é o amor. Porque Ele ama, disciplina. Porque ama chama ao arrependimento. Porque ama nos dá oportunidade de recomeçar. Porque ama está disposto a perdoar-nos [21].

A palavra amor usada aqui no texto é phileo. É o amor de sentimentos, afeições e emoções. Neste contexto, esta é a palavra mais importante que Cristo poderia usar [22]. Mas todo esse amor sem que eles não tomassem duas atitudes básicas de nada adiantaria. Era necessário em primeiro lugar que a igreja deixasse de ser morna e se tornasse uma igreja quente, fervorosa e a segunda coisa que ela deveria fazer era arrepender-se. Aliás, este é um dos elementos de quase todas as cartas, a chamada ao arrependimento, exceto Esmirna e Filadélfia não foram chamadas a se arrependerem. Arrependimento é o ponto chave para a vida cristã, sem arrependimento não pode haver mudança na vida da igreja, tanto que Jesus inicia o seu ministério chamando os povos ao arrependimento (Mt 4.17).

Arrepender-se é dar as costas a esse cristianismo de aparências, de faz de contas, de mornidão. A piedade superficial nunca salvou ninguém. Não haverá hipócritas no céu [23]. Devemos vomitar essas coisas da nossa boca, do contrário, Ele nos vomitará. Devemos trocar os anos de mornidão pelos anos de zelo.

Não creio em ateus. Ateus não existem.


Por Magno Paganelli

Já faz um tempo que tenho refletido sobre a questão do ateísmo. Claro, todos pensamos nisso em algum momento. Como pode alguém “chegar à conclusão” de que não há Deus? (Sl 42.3,10) Isso, sim, é que não existe, ou seja, a conclusão de que Ele não existe. Até Antony Flew, um dos pais do moderno “ateísmo”, concluiu, pouco antes de sua morte, que a pesquisa sobre o DNA “mostrou, em vista da complexidade quase inacreditável dos arranjos necessários para a produção de vida, que inteligência foi envolvida no processo” (Um ateu garante: Deus existe, Ediouro, ênfase acrescentada). E como ele, sabemos de muitos outros “ex-ateus” que à beira do precipício, renderam-se.
  
Mas a minha descrença no ateísmo não parte da religiosidade inata – nos humanos também. Não parte das minhas reflexões e racionalizações. Já publiquei um livro que lida com a questão “religião versus” ou “religião & ciência” (Ciência e Fatos Bíblicos, Dynamus, 2ª ed., 2004), onde demonstro as leis, os fatos e as descobertas da própria ciência que atestam, com as ferramentas da ciência, a veracidade do relato bíblico. Ditos ateus e religiosos, ambos têm fortes argumentos “irrefutáveis” em causa própria.

Mas o caso não é esse, já que a questão não são os fatos e as narrativas primordialmente, mas o próprio Deus. O dito ateu não deve ter dificuldade em crer no Jesus histórico, ou no movimento dos hebreus rumo à palestina, nem na existência da arca da aliança. O dito ateu é aquele que não crê na existência de Deus, mas pode admitir que relatos bíblicos são verificáveis. Do contrário, seria irracionalidade sua, pois a Bíblia lida com lugares, nomes, posições geográficas, datas históricas, além da documentação arqueológica, histórica, linguística, antropológica e muitas outras. Há ditos ateus escavando sítios arqueológicos orientados pelos relatos das Escrituras judaico cristãs. Ponto.

A questão do ateísmo é outra. Ele refuta a existência de Deus. Mas não há provas daexistência de Deus, como igualmente não há provas da sua inexistência! Todo dito ateu que seja razoável concorda aqui como nós religiosos também. Verificam-se, então, as evidências. A discussão toda se mantém no campo das evidências e na refutação das mesmas, de ambos os lados.

Uma campanha da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (ATEA), que seria veiculada em ônibus de Porto Alegre e Salvador – e que foi suspensa – traria a discussão para o campo errado. Os cartazes continham frases como “Religião não define caráter” e “A fé não dá respostas. Ela só impede perguntas”. Note que as próprias frases não são um ataque a Deus e sua existência, mas claramente uma manifestação preconceituosa e discriminatória contra a religião e a fé. Essa campanha existe em países da Europa, como Inglaterra e Espanha, e também nos Estados Unidos.

As frases, a meu ver, são medíocres, não têm sentido lógico. Do ponto de vista dito ateu, ou mesmo da perspectiva científica, não são passíveis de comprovação. Do ponto de vista teológico elas são uma farsa. Religião não define caráter, mas Deus define; e mais, a féfaz perguntas, sim, por um sujeito com o qual dialoga por meio de sua Palavra. Qualquer cristão com conhecimento básico em teologia poderia refutá-las.
  
Além do mais, as frases demonstrariam, caso viessem à público, um imperdoável desconhecimento da história. Dizer que Johannes Kepler não fazia perguntas porque tinha fé! Foi ele quem disse que o cientista que estuda a natureza “está pensando os pensamentos de Deus depois dele”. Blaise Pascal não fazia perguntas porque tinha fé! Ele afirmou que “a fé nos diz o que os sentidos não percebem, mas em contradizer suas percepções. Ela apenas transcende, sem contradizer”. E Isaac Newton? Sobre a incredulidade, saiu-se com essa: “O ateísmo é completamente sem sentido. Quando olho para o sistema solar, vejo a terra na distância correta do sol para receber a quantidade de luz e calor apropriadas. Isso não aconteceu por acaso.” Sorte dos ditos ateus que a campanha foi rejeitada a tempo.

Então, não preciso discorrer sobre o conteúdo das frases, mas quero evocar o texto de Eclesiastes, que diz: “Também pôs no coração do homem o anseio pela eternidade...” (Ec 3.11). Esse texto da versão NVI traz “eternidade”, tradução de um termo hebraico que significa “para sempre”. Algumas versões trazem “mundo”, mas literalmente a tradução é “para sempre”. O texto diz que há, inato no ser humano, o desejo, o anseio, a vocação para o tempo futuro, eterno, para sempre.

O homem é um ser que vive o presente, movido pelas experiências do passado procurando resolver os enigmas do futuro. Sempre foi assim. Nossa preocupação tem sido o amanhã. A ansiedade, patologia que afeta a milhões no mundo, resulta incerteza sobre o amanhã, sobre o futuro. O passado, tendo sido bom ou mal, influencia as nossas decisões hoje, quando procuramos a melhoria nas próximas ações e decisões a serem tomadas – no futuro. O homem é um ser voltado para o futuro. Assim, negar a existência de Deus pode ser reflexo de um trauma ou frustração passada que desemboca em uma rejeição e negação do futuro e de tudo o que ele reserva. E, se o futuro é estar com Deus (ou separado dele), o reflexo do passado implica na rejeição de qualquer compromisso com o “estar com Ele” (ou “para sempre” separado dele).

Sartre, Camus e outros ateístas humanistas ensinavam que somos fruto do acaso, diziam que a humanidade foi empurrada para dentro da existência sem qualquer conhecimento de suas origens: empurrados por quem? Diziam viver a tragédia humana, oabsurdo, e que o suicídio como solução final era a questão a ser considerada. Assim, penso, o suicídio para eles e seus seguidores era uma tentativa de rompimento com um futuro admitidamente “sem Deus”, uma manobra para driblar Deus vindo ao seu encontro no futuro. Era um atalho para não entrar no Caminho.
  
Se, como escreveu o sábio Salomão, Deus colocou “no coração do homem o anseio pela eternidade”, então como fugir dessa condição e destino? A eternidade é, então, uma metonímia que pode ser substituída por Deus. O homem veio de Deus e Deus colocou em seu coração o desejo de retornar para Ele. Se “fomos empurrados” para dentro da existência – como queria Sartre – ao sairmos dela voltamos para a origem, voltamos para Deus. Como livrar-se dessa condição inata? Não há como! Rejeitar a existência de Deus – diga-se de passagem, um Deus eterno e que Ele mesmo se encontra na eternidade – é um paliativo simplista demais, equivocado certamente, reducionismo.

Dizer “não creio em Deus” é puro discurso, palavrório de quem anda na contramão porque quer chamar a atenção. Não creio nisso. É polemização, tão somente, que leva a pessoa a construir um estilo de vida e uma maneira de pensar que com o tempo aparenta – a ela e aos outros – que realmente crê naquilo que prega. Em psicologia isso é chamado sublimação.

Não posso crer em ateus dessa forma. Ateus não existem.