terça-feira, 5 de novembro de 2013

Os santos têm que caminhar sozinhos


Por A. W. Tozer

Os grandes santos caminharam em solidão. A solidão parece ser o preço a ser pago por todos os que buscam a santificação. Na aurora da criação – ou deveríamos dizer nas trevas que acometeram o homem após a criação – o piedoso Enoque andou com Deus e Deus o levou para si. Embora não conste no texto bíblico, presume-se que Enoque viveu diferentemente de seus contemporâneos.

Noé era outro solitário, porque, de todos os que viveram na era pré-diluviana ele foi um dos poucos que encontrou graça diante de Deus, e tudo indica que era um homem solitário, inda que cercado e tanta gente.

Abraão convivia com Sara e Ló e com outros servos e pastores, e os que lêem a história deste homem de Deus podem perceber que ele vivia como uma estrela solitária. Ao que parece Deus nunca falou a Abraão na presença de outros homens. Prostrado ele comungava com Deus e não existem indícios de que se prostrava diante de Deus na presença dos outros. Que cena solene quando na noite escura a tocha de fogo passou sobre os pedaços de animais. Abraão estava só! Ali, sozinho em meio as trevas terríveis que o acometeram, ele ouviu a voz de Deus, e entendeu que fora marcado para receber o favor divino.

Moisés também se separava. Vivendo na corte de Faraó ele caminhava sozinho, e numa dessas caminhadas longe da multidão ele viu um egípcio e um hebreu lutando, e saiu em socorro do compatriota. Depois que fugiu viveu em completa reclusão no deserto. Cuidando das ovelhas viu a sarça que ardia; anos depois no cume do Sinai ele ficou diante da maravilhosa Presença (de Deus), meio oculta, meio exposta pela nuvem e pelo fogo.

Os profetas do Antigo Testamento eram diferentes uns dos outros, mas uma marca tinham em comum: a solidão com Deus. Eles amavam o povo e alegravam-se com a religião de seus pais, no entanto, sua lealdade ao Deus de Abraão, Isaque e Jacó, e o zelo pelo povo de Israel os afastava da multidão mergulhando-se em longos períodos de pesar. “Tornei-me estranho a meus irmãos e desconhecido aos filhos de minha mãe” (Sl 69.8). Foi o clamor de um deles que falou em nome dos demais!

Nada é mais revelador que a visão que Moisés teve daquele sobre quem todos os profetas escreveram, descrevendo-lhe a solidão na cruz. A solidão profunda não foi percebida pela presença da multidão.

É meia noite. No cimo das Oliveiras
A estrela brilhante seu brilho feneceu
É meia noite. No jardim, agora,
O Salvador sofredor solitário, ora.
É meia noite. Longe de todos
O Salvador luta contra seus temores, só.
Até o discípulo a quem ama
Não se importa com as dores e
Lágrimas do seu mestre. (Willian B. Tappan)

Na escuridão, solitário morreu, escondido dos mortais; e ninguém o viu quando triunfante ressuscitou saindo da tumba, inda que muitos o viram depois e deram testemunho de sua glória. Existem coisas sagradas demais para que o olho humano contemple, a não ser Deus. A curiosidade, o clamor, as boas intenções em querer ajudar, apenas impedem a alma que espera tornando impossível a comunicação da mensagem secreta de Deus ao coração do adorador.

Reagimos, muitas vezes a um tipo de religiosidade e repetimos por obrigação palavras e frases apropriadas, inda que estas não expressem nossos reais sentimentos, porque carecem de autenticidade e de experiência pessoal.

Este é o tempo para isto. Uma lealdade convencional pode levar algumas pessoas a dizerem que isto não é verdadeiro, afirmando coisas como, “não estou só”, porque Cristo disse “Nunca te deixarei nem te abandonarei” e “estarei contigo para sempre”. Como posso ficar sozinho se Jesus está comigo?

Claro, não quero analisar a sinceridade dessas pessoas, mas tal testemunho é lindo demais para ser real. É óbvio que é uma declaração do que deveria ser verdadeiro e não da realidade experimental. Esta alegre negação de solidão é prova de que a pessoa nunca andou com Deus a não ser pela sustentação e encorajamento da sociedade.

O senso de companhia que erroneamente atribui à presença de Cristo, possivelmente seja fruto da amizade das pessoas. Lembre-se que você não pode carregar sua cruz com outras pessoas. Mesmo que esteja cercado pela multidão, a cruz é só dele e a cruz que ele carrega marca-o como pessoa que vive à parte das demais. A sociedade está contra ele, do contrário não carregaria uma cruz. Ninguém é amigo de alguém com uma cruz. “Todos o abandonaram”.

A dor da solidão é fruto da constituição de nossa natureza. Deus nos fez gregários. Para viver em grupo. Este desejo por companhia é natural e correto. A solidão do cristão é resultado de sua caminhada com Deus num mundo impiedoso. Jornada que às vezes o afasta da companhia de bons irmãos, e também do mundo. O instinto que Deus pôs no cristão clama pela companhia de outras pessoas, por pessoas que entendam seus desejos, aspirações, sua dedicação a Cristo, e, pelo fato de haver tão poucas pessoas em seu círculo de amizade que partilham de experiências profundas, o cristão se vê forçado a andar só.

O desejo anelante dos profetas por compreensão humana levava-os a clamar e a reclamar, e até nosso Senhor sofreu da mesma maneira.

A pessoa que se posta ante a divina Presença e tem uma experiência interior, não será compreendida. Claro que se envolverá na vida social da igreja, porque terá que se encontrar com as pessoas nos cultos, mas encontrará dificuldades em encontrar a verdadeira amizade espiritual. E não pode esperar que as coisas sejam diferentes. Afinal, este cristão é um peregrino e estrangeiro, e a jornada que empreende não é feita com os pés, mas com o coração. Ela anda com Deus no jardim secreto de sua alma – e somente Deus pode caminhar com ele ali. Tal pessoa tem um espírito diferente daqueles que pisam os átrios da casa de Deus. O que ela vê, os demais apenas ouviram; e tal pessoa caminha com elas, à semelhança de Zacarias depois de sua experiência, quando as pessoas diziam: “Ele teve uma visão”.

O verdadeiro homem espiritual é um ente singular. Não vive para si mesmo, e sim para promover o interesse de Cristo. Procura persuadir os demais a entregarem tudo ao seu Senhor, sem se preocupar com o que irá receber em troca. Seu prazer não está em ser honrado, mas em ver seu Salvador glorificado diante dos homens. Seu prazer está em promover seu Senhor, enquanto ele mesmo quer ser negligenciado. Poucos são os que ele encontra que se interessam em conversar sobre o supremo objeto de seu prazer, por isso silencia e se preocupa no meio da multidão ruidosa e interesseira.

Não é sem razão que tem a reputação de ser duro e sério, por isso é evitado e o abismo entre ele e a sociedade aumenta. Busca encontrar amigos cujas vestes ele pode sentir o aroma das mirras e aloés e da cássia, pessoas que vivem longe dos palácios de marfins, e a poucos encontra, e ele, como Maria guarda essas coisas em seu coração.

É esta solidão que o lança nos braços de Deus. “Porque, se meu pai e minha mãe me desampararem, o Senhor me acolherá” (Sl 29.10). Por não encontrar amizades humanas é impelido a buscar em Deus o que não consegue encontrar nos amigos. Aprende em solitude interior o que não consegue aprender com a multidão – que Cristo é tudo em todos, feito sabedoria, justiça, santificação e redenção, e que nele possuímos o sumo da vida.

Duas coisas ainda precisam ser ditas: Primeiro. O homem solitário do qual falamos não é um ser arrogante e orgulhoso, nem tampouco o mais santo que todos, um santo austero ironicamente satirizado pela literatura popular. Ele sente que é o menor de todos os homens, e se condena por sua solidão. Anela compartilhar seus sentimentos com outras pessoas, abrir seu coração com alguém que o entenda, mas o clima espiritual em que vive não o anima a fazê-lo, por isso permanece em silêncio e conta seus dramas somente a Deus.

Segundo. O santo solitário não se afasta nem ignora o sofrimento das pessoas, gastando seus dias em contemplação empírica. O contrário é verdadeiro. Sua solidão leva-o a sentir empatia aos quebrantados de coração, aos pecadores e caídos. Por viver separado do mundo pode ajudar os que são pelo mundo violentados. Meister Eckhart ensinava seus discípulos que se estivessem em oração e soubessem que uma pobre viúva precisava de alimentos, deveriam interromper o tempo de oração para cuidar da viúva. “Depois você pode recomeçar suas orações onde você as interrompeu. Deus não levará isso em conta”. Este é o comportamento típico dos grandes mestres e místicos de vida interior plena, desde os tempos de Paulo até nossos dias.

A fraqueza de certos cristãos é que se sentem confortavelmente em casa no mundo. Na tentativa de conseguir se ajustar a uma sociedade degenerada perderam sua característica de peregrinos e se tornaram parte da mesma ordem moral contra as quais deveriam protestar. O mundo os aceita e os reconhece pelo que são. E esta é a pior coisa que pode ser dita a respeito deles. Não são solitários nem santos.

Justificação: entenda o que é




Tenho insistido, nos textos e palestras que faço, na indispensável necessidade de todo cristão conhecer e entender o que é a justificação, ou a doutrina da justificação. Ela é tão importante, tão necessária, que o apóstolo Paulo dedica mais de dois capítulos da carta aos romanos para falar do tema. A Reforma Protestante, capitulo fundamental na história da Igreja, gira em torno dessa mesma questão: a justificação – e justificação pela fé, e não por outro meio.

No entanto, quando pergunto às pessoas para as quais tenho falado em palestras e seminários, ninguém sabe do que trata a justificação. E irmãos e irmãs que são oficiais em suas igrejas, nem mesmo eles sabem o que é a doutrina da justificação!

Então, está configurada a necessidade de falar sobre o tema!

O que é a Justificação?

“Justificação significa absolvição da culpa, cuja pena foi satisfeita. Significa ser declarado livre de toda culpa, tendo cumprido os requisitos da lei. Ou ainda, justificação é o ato pelo qual nos tornamos “justos” perante Deus, mediante a aceitação do sacrifício de Cristo. Há uma verdade fantástica acerca da justificação, que é a substituição. Sem a substituição não seria possível a justificação. Jesus se tornou substituto do pecador para cumprir a exigência da lei que é a pena do pecado.” (Elienai Cabral, Carta aos Romanos, CPAD)

Como e por que ela ocorre?

Quando transgredimos o mandamento (que não admite pecado contra a sua Lei), a justiça de Deus exige a morte do pecador (“Aquele que pecar é que morrerá.” Ez 18.4). Essa é uma exigência feita pela justiça de Deus, uma vez que a santidade e a divindade do Todo-poderoso são afrontadas pelo pecado, pecado que nada mais é do que rebeliãocontra ou rompimento da relação Criador x criatura.

Como todos pecamos (“Todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus”. Rm 3.23 e 5.12), seria necessária a extinção da raça. Inviável, isso foge a vontade de Deus sobre o aumento a população, povoamento do planeta e criação de um povo que o adore e o sirva.

A alternativa foi a implantação do sacrifício, como vemos no Antigo Testamento. Um animal morre em lugar do transgressor da Lei. Mas o problema maior permanecia lá, já que o sacrifício pelo pecado era uma ação externa ao pecador, que raríssimas vezes atingia o âmago da questão: o seu coração.

O sacrifício de Cristo é o que a Bíblia chama de sacrifício perfeito. Os atos realizados no Antigo Testamento eram provisórios (“pois é impossível que o sangue de touros e bodes tire pecados”. Hb 10.4), e apontavam (ou aguardavam) o sacrifício perfeito. O sangue derramado do cordeiro no Antigo Testamento apenas “cobria” o pecado e “amenizava” a exigência pela justiça. Mas a vinda do “Cordeiro de Deus” traz consigo não uma cobertura para o pecado, mas a remoção definitiva. É por isso que João Batista diz: “Vejam! É o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” (Jo 1.29). João não diz que Jesus “cobre”, mas que “tira” os pecados do mundo. O sangue de Jesus tem o poder de atender às exigências feitas pela justiça santa de Deus.

Assim, Jesus conquista o crédito (ou mérito), por assim dizer, de satisfazer a justiça da Lei de Deus e pode compartilhar esse crédito com aqueles que depositam fé no seu sacrifício e em seu sangue.

Em Romanos 3.21 lemos: “Mas agora se manifestou sem a lei a justiça de Deus, tendo o testemunho da lei e dos profetas.” Essa “justiça de Deus” é Jesus Cristo, o justo, e quanto a nós, somos justificados se tivermos fé em seu sangue. Com duas palavrinhas iniciais do versículo 21 “mas agora”, abriu-se um novo caminho para o pecador andar. É o caminho da fé na pessoa de Jesus, o qual está aberto para todo aquele que crê em Cristo. Não há distinção de pessoa, raça, língua, cor ou condição social. Todos os homens têm esse direito desde que creiam. Esse caminho é provisão divina para o mundo pecador. O pecado afastou o homem de Deus e cortou a comunhão entre ambos. Mas essa provisão tornou possível uma nova comunhão com Deus, através de Jesus Cristo. Ele obteve para o pecador a justificação fazendo-se expiação de nossa culpa pelo seu sangue. Podemos comparecer diante de Deus através de seus méritos.” (Ibidem)

Os três elementos da Justificação

Os três elementos da justificação são: a graça, o sangue e a fé. Vejamos os versículos que dizem respeito.

1. “Sendo justificados gratuitamente pela sua graça…” (Rm 3.24a). A graça de Deus é o seu favor para com o pecador, independente de merecimento. Por isso, o pecador é justificado “gratuitamente”. O versículo ainda diz: “mediante a redenção que há em Cristo Jesus” (Rm 3.24b). O ato justificador pela graça de Deus baseia-se na redenção efetuada por Jesus no Calvário.

A palavra redenção na Bíblia tem dois significados no grego: agorazõ que significa “retirar do mercado”, isto é, comprar e não deixar mais exposto a outras vendas (Gl 3.13; 4.5; Ef 5.16; Cl 4.5), uma vez que o escravo era considerado uma mercadoria para compra e venda e o pecador é um escravo do Diabo e do pecado. A outra palavra grega que élustroõ que significa “desamarrar” ou “soltar” (Lc 24.21; Tt 2.14; 1Pe 1.18); portanto a obra redentora foi efetuada por Jesus, que “libertou” os pecadores.

2. “Ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue…” (Rm 3.25a). No sangue está a base e a causa da justificação. Duas palavras se destacam no versículo de Romanos: sangue e propiciação. O sangue derramado faz com que sejam removidos os pecados anteriormente cometidos, ou seja, ele faz a propiciação, isto é, torna “favorável”, torna “propício” o relacionamento do homem com Deus (relacionamento que tinha sido rompido pelo pecado). O escritor aos Hebreus observa que “sem derramamento de sangue, não há remissão de pecados” (Hb 9.22).

O sangue de Cristo faz a propiciação, mediante a fé. O sangue de Cristo satisfaz as exigências divinas de justiça, cumprindo as exigências da Lei. Jesus cumpriu toda a Lei derramando o seu próprio sangue. Deus enviou seu Filho Jesus para morrer como sacrifício propiciatório.

3. “Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da Lei” (Rm 3.28). Com esse versículo fica claro que por recursos, méritos ou esforços próprios (o que algumas versões chamam “jactância”) o homem não alcança a justificação, mas somente por meio da fé. Fé significa aceitar com plena confiança o sacrifício justificador de Cristo.

Que significa, então, ser justificado pela fé? (Rm 3.28) 

Significa receber o reconhecimento divino de justiça a partir do que Cristo fez em nosso favor. A palavra justificar, no grego da época, é dikaioo, e quer dizer “declarar justo”.

Como o pecador é declarado justo diante de Deus? 

Visto que o pecador não tem condição nem méritos para ser justificado diante de Deus, então Cristo, “que não conheceu pecado”, tomou os pecados sobre si e os cravou na sua cruz, fazendo-se “pecador por nós”. Feito isto, Ele propiciou para nós a justificação. Nossa justificação baseia-se (por meio da fé) na obra que Cristo fez por nós (2Co 5.21; Tt 3.4,5).

No versículo 31 o apóstolo levanta uma questão: “Anulamos, pois, a Lei, pela fé? Você pode ter feito a mesma pergunta alguma vez, e a reposta é NÃO. “De maneira nenhuma, antes confirmamos a Lei”. O fato da justificação efetuar-se mediante a fé não anula a Lei, nem a desmerece. Pelo contrário, a fé se baseia no fato de Cristo ter cumprido toda a Lei por todos os homens. A Lei não perde sua importância mediante a fé, ela não se torna sem efeito; ao contrário, a Lei é confirmada no sentido de que ela foi cumprida integralmente pelo autor da fé, Jesus Cristo. Ele mesmo falou certa feita: “Não penseis que vim destruir a Lei ou os Profetas; não vim destruir, mas cumprir” (Mt 5.17).

Vimos, então, os princípios do pecado e a necessidade da salvação, Deus se revelando ao homem e preparando a salvação, o processo expiatório (ou redentivo) no Antigo Testamento e sua transição para o Novo Testamento; o que é a graça, a propiciação e por último a justificação.

Espero ter esclarecido o importante tema, tão prezado a inúmeros cristãos na história da Igreja, especialmente a Lutero, que como um dos promotores da Reforma teve a doutrina da justificação pela fé como o eixo em torno do qual sua compreensão teológica girou. Esse, aliás, um dos lemas da Reforma: Justificação pela fé somente, em contraste que mecanismos inúteis praticados no romanismo.

De volta ao evangelho


Por Rev. Hernandes Dias Lopes

O evangelho é a melhor notícia que já ecoou nos ouvidos da história. É a boa nova da salvação vinda de Deus a pecadores perdidos. É o transbordamento do amor divino aos filhos da ira. É a graça sem par a pessoas indignas. É a misericórdia estendida a indivíduos arruinados. O evangelho é o novo e vivo caminho que Deus abriu desde o céu para o céu. Esse não é o caminho das obras, mas da graça. Não é o caminho do mérito, mas da oferta gratuita. Não é o caminho da religião, mas da cruz. A salvação é uma obra monergística de Deus, trazendo libertação aos cativos, redenção aos escravos e vida aos mortos.

Com respeito ao evangelho, precisamos estar alertas sobre alguns perigos. Tanto no passado como no presente, ataques frontais foram e ainda são feitos para esvaziar o evangelho, distorcer o evangelho e substituir o evangelho por outro evangelho, que em essência, não tem nada de evangelho. Quais são esses perigos?

Em primeiro lugar, o perigo de substituir o evangelho da graça pelo evangelho das obras. O mundo odeia o evangelho, porque este é um golpe fatal em seu orgulho. O evangelho anula completamente qualquer possibilidade do homem vangloriar-se. Reduz o homem à sua condição de completo desamparo. Mostra sua ruína absoluta, sua depravação total, sua escravidão ao diabo, ao mundo e à carne, sua corrupção moral e sua morte espiritual. A tentativa do homem chegar-se a Deus pelo caminho das obras é tão impossível como tentar construir uma torre até aos céus. O apóstolo Paulo diz aos judaizantes que estavam perturbando a igreja e pervertendo o evangelho, induzindo as pessoas a praticarem as obras da lei para serem salvas, que isso é um outro evangelho, um evangelho falso, que desemboca na ruína e na perdição.

Em segundo lugar, o perigo de substituir o evangelho da cruz pelo evangelho da prosperidade. Prolifera em nossos dias os pregadores da conveniência, os embaixadores do lucro em nome da fé. Multiplicam-se neste canteiro fértil da ganância, homens inescrupulosos que mercadejam a palavra de Deus, fazendo da igreja uma empresa, do púlpito um balcão, do evangelho um produto híbrido, do templo uma praça de negócios e dos crentes consumidores. O vetor desses obreiros da iniquidade é o lucro. Pregam para agradar. Pregam para atrair as multidões com uma oferta de riqueza na terra e não de um tesouro no céu. Torcem as Escrituras, manipulam os ouvintes, enganam os incautos, para se locupletarem. Sonegam ao povo a mensagem da cruz, a oferta da graça, a mensagem da reconciliação por meio do sangue de Cristo. Embora esses pregadores consigam popularidade estão desprovidos da verdade. Embora reúnam multidões para ouvi-los, não oferecem aos famintos o Pão do céu. Embora, se vangloriem de suas robustas riquezas acumuladas na terra, são miseravelmente pobres na avaliação do céu.

Em terceiro lugar, o perigo de se pregar o evangelho sem o poder do Espírito Santo. Se a pregação do falso evangelho das obras e da prosperidade é um negação do genuíno evangelho, a pregação do verdadeiro evangelho sem o poder do Espírito é uma conspiração contra o evangelho. O evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo o que crê. Nele se manifesta a justiça de Deus. Não podemos pregá-lo sem a virtude do Espírito Santo. O pregador precisa ser um vaso limpo antes de ser um canal de bênção. Precisa viver com Deus antes de falar em nome de Deus. O pregador precisa ser cheio do Espírito antes de ser usado pelo Espírito. Se a pregação do evangelho é lógica em fogo, a mensagem do evangelho precisa queimar no coração do pregador antes de inflamar os ouvintes. Precisamos desesperadamente de um reavivamento nos púlpitos. Precisamos voltar ao evangelho!