domingo, 1 de dezembro de 2013

DIA DA CIDADE - 2013

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Jesus não era evangélico


Por Manoel da Silva Filho

Fico a conjecturar, se houvesse um retrocesso na história e Jesus voltasse novamente, não entre nuvens do céu na parousia em poder e glória, mas, novamente como o singelo profeta da Galiléia, e visitasse as zilhões de igrejas espalhadas pelo planeta que se intitulam cristãs, se Ele seria simpatizante de algumas das denominações instituídas do nosso tempo. Com certeza os “conheço as tuas obras” e os “tenho, porém, contra ti” sobre esses agrupamentos ditos evangélicos, atingiriam dimensões colossais.

Ora, Jesus, uma vez entre nós outra vez, certamente usaria da mesma sabedoria que usou quando andava pela Terra, nas ruas da Palestina, não aderindo a nenhum dos postulados dessas denominações, das propostas das grandes corporações da fé e dos super conglomerados da religião, das igrejas-empresa que superestimam números, estatísticas e resultados de crescimento numérico, não se encaixando em nenhuma bitola teológica sistemática ou dogmática, não se deixando caber em nenhuma fôrma doutrinária.

Essa recusa de ser domesticado pelos chicotes dos domadores do circo da religião atual é a mesma reação com que Ele se negou intermitentemente em tomar partido por qualquer das facções religiosas, políticas e humanitárias de Sua época: Os fariseus, com sua sobrecarga de regras e manias de assepsia exagerada, se vendo como santos de pau oco; os saduceus, sacerdotes profissionais do templo, incrédulos mundanizados que não criam na vida sobrenatural e futura; os essênios, escapistas, fugindo do mundo e se refugiando em mosteiros no deserto, achando que eram os exclusivos filhos da luz, que todas as pessoas do mundo estavam nas trevas, e iam torrar no fogo do inferno; os pragmáticos zelotes, xiitas radicais que esperavam derrubar o Império Romano se utilizando da violência das armas; os herodianos, entreguistas, colaboracionistas, puxa-sacos da família de Herodes, rei fantoche marionetado pelo governo romano.

Com certeza Jesus, se voltasse ao nosso tempo e adentrasse pelas naves das igrejas evangélicas da atualidade, não se deixaria seduzir pela pompa de seus cultos, pelo aparato ofuscante da maioria de suas liturgias, com Cristo exposto no nome, nos hinos e nas pregações, mas sem Cristo na devoção do coração, e não se alumbraria com suas proposições arrogantes, suas insolências fundamentalistas, seus testemunhos mirabolantes, suas pseudo-curas dissimuladas, por seus eternos cabos de guerra doutrinários puxados pelos defensores ferrenhos do calvinismo e do arminianismo, suas ênfases maniqueístas dicotômicas e esquizofrênicas, sua doutrina triunfalista com promessas de céu na terra, seus argumentos furados de prosperidade a qualquer preço, cujo slongan ortoprático é: “Os fins não justificam os meios. Tudo por mim mesmo e pela causa da minha conta bancária”.

E mais, Jesus detectaria de cara, traços inconfundíveis dos partidos religiosos de seu tempo camuflados na igreja da atualidade como os novos fariseus, com suas igrejas repletas de líderes de mente reduzida e exclusivista, com suas reações preconceituosas contra quem é e pensa diferente; os novos saduceus hedonistas que querem sentir prazer sensual em seus cultos preparados para entreter e acariciar seus egos mimados; os novos zelotes, que condenam e violentamente matam sumariamente os que não pensam como eles; os novos herodianos que vivenciam um cristianismo camaleônico, mimético e diluído entre o amor obsessivo ao dinheiro e o compromisso com as causas reais do Reino de Deus.

Jesus se voltasse hoje, teria que chamar novamente novos seguidores retirados das ruas, homens simples, alijados pela igreja e pela sociedade, e agregaria gente sincera e inconformada de dentro das igrejas instituídas e fundaria uma nova igreja, à semelhança do que aconteceu a dois mil e poucos anos atrás.

Essa igreja, a nova comunidade que encarna Cristo, a nova sociedade alternativa composta de discípulos que desacreditam no cristianismo falido dos nossos tempos com toda a sua sobrecarga de patologia e esquizofrenia aguda, mas que, apesar dos pesares, ainda amam e insistem em seguir a Jesus.

Os escândalos no meio evangélico


Por Alex Belmonte

A constante exploração da mídia nos assuntos que se referem á escândalos financeiros no meio evangélico tem gerado expressivos comentários por parte da sociedade em geral principalmente das denominações eclesiásticas. De um lado, uma parte dos meios de comunicação adere ao sensacionalismo barato, numa tentativa de banalizar a esfera religiosa generalizando erroneamente o assunto em destaque, causando na liderança cristã ojeriza e nojo por tal comportamento antiético, desenfreado. Por outro lado, uma sociedade dividida entre o comum e o assustador, entre o santo e o profano. É claro que nesse meio se encontra a mídia séria, competente, propagadora da verdade, sincera em sua divulgação “investigativa”.
Mas com tudo isso desejo vos apresentar três boas razões para derrubar os alaridos que tentam ridicularizar as referidas situações, revelando assim aos mais incautos e aos que desejam esclarecimentos que, a problemática que ocorre no meio evangélico envolvendo líderes cristãos e outros, nos assuntos das finanças dos fiéis se torna possível pelo seguinte:

1º. Cristo contemplou isso no meio de seus discípulos. O próprio Jesus conviveu com um ladrão “falso convertido”. No relato de João 12.4-6 diz: “Mas um de seus discípulos, Judas Iscariotes, filho de Simão, que mais tarde iria traí-lo, objetivou: Por que este bálsamo perfumado não foi vendido por trezentos denários e dado aos pobres? Ele não disse isso por se importar com os pobres, mas porque era ladrão; sendo responsável pela bolsa de dinheiro, frequentemente tirava o que nela era depositado” (Versão King James). O texto é claro em mostrar que o problema ocorreu até no meio dos discípulos de Cristo. Como não poderia também acontecer em nossos dias? Mas o que tal discípulo cometeu não fez dos demais, como se diz no popular “farinha do mesmo saco”. Significa que não é a igreja evangélica ou católica que é má por causa da conduta de seus membros, mas sim alguns que nela estão seguindo por outros caminhos. Temos outros exemplos descritos nos registros da Antiga Aliança (Antigo Testamento), como a história de Acã – Josué 7, dos Sacerdotes ladrões– Livro de Malaquias, etc.

2º. O Homem possui uma natureza pecaminosa independente de sua religiosidade. Essa é a segunda razão para que atos como esses no meio cristão são possíveis. O homem deve servir a Deus de todo o seu coração, mas jamais devemos nos esquecer que temos a natureza inclinada para o pecado. É claro que cabe aqui uma verdade da exposição teológica. Existe uma grande diferença entre o ímpio pecador e o cristão pecador. O ímpio peca por ser escravo do pecado, o cristão fiel peca por ter a natureza pecaminosa, mesmo sendo liberto do pecado pelo sangue de Jesus, o sacrifício da cruz. Foi por isso que Jesus advertiu em Mateus 26.41: “Vigiai e orai, para não cairdes em tentação. O espírito, com certeza, está preparado, mas a carne é fraca” (KJV). Como dizia filósofo Platão (427-347 a.C) que “o homem se encontra num estado de akrasia”, ou seja, o agente acrático, que tem a fraqueza da vontade, ou a vontade quebrada por uma paixão. Alguém que é fraco em suas determinações.

3º. Colhemos apenas o que plantamos. “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará” Gálatas 6.7. Escândalos financeiros e demais tipos de desvios como da moralidade podem acontecer em qualquer ambiente, em qualquer esfera, mas quando as coisas são noticiadas com certeza Deus está cobrando de alguém justamente o que aquela pessoa plantou. A Bíblia diz que “nada há encoberto que não haja de ser manifesto; e nada se faz para ficar oculto, mas para ser descoberto” Marcos 4.22. Muitas pessoas acusadas de tais delitos serão inocentadas e outras deverão sim pagar o que fizeram. É por isso que o sábio registrou: “Cada um se fartará do fruto da sua boca, e da obra das suas mãos o homem receberá a recompensa” Provérbios 12.14.

Que Deus fortaleça a cada cristão fiel aos princípios da Palavra de Deus. E que o Eterno continue fazendo justiça aqui na terra finalizando com o decreto do além.

Fonte: Napec

Escândalos e Disciplina


Por Vincent Cheung
Não aceite acusação contra um presbítero, se não for apoiada por duas ou três testemunhas. Os que pecarem deverão ser repreendidos em público, para que os demais também temam. (1 Timóteo 5.19-20)

Os detalhes dessa história me escapam, mas penso ter a essência dele. Alguns membros da igreja viram um pregador entrar num botequim e ficaram transtornado com isso. Aqueles de vocês que estão acostumados a usar “tudo o que Deus criou é bom” para justificar todas as suas atividades e associações poderiam não estender isso, visto que fazem coisas como essa o tempo todo e não podem perceber nada errado aqui. Mas alguns de nós cremos com Paulo que “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas edificam” (1 Coríntios 10.23, ACF). Todavia, esses membros de igrejas foram além da curiosidade, e assumiram que o pregador estava prestes a fazer algo errado. Mais tarde foi descoberto que o pregador entrou no estabelecimento com uma guitarra, subiu no palco e cantou umas poucas canções gospel. Sua performance comoveu tanto a audiência que alguns professaram fé em Cristo, e alguns foram trazidos da sua apostasia de volta à fé. Jesus nos ensinou a julgar não de acordo com a aparência, mas a fazer um julgamento justo (João 7.24). Algumas pessoas pensam que são cães de guarda de Deus, mas eles são apenas bisbilhoteiros que julgam as boas obras dos outros por suas próprias más intenções.

Os cristãos amam escândalos. Eles gostam de tomar conhecimento e falar sobre eles. Em vez de ser estudantes da Palavra de Deus, eles têm prazer em se tornar especialistas sobre quem disse ou fez o que a quem. Sem dúvida eles lamentam os escândalos, as falsas doutrinas e os fracassos morais dos outros. E como eles apreciam o lamento! Que válvula de escape emocional! Que forma maravilhosa de expressar indignação justa! Que atalho para uma sensação de santidade! Deve haver um mercado rentável para os tabloides de fofocas cristãs. Estou fora de contato com o clube de mexeriqueiros – talvez eles já existam, pelo menos na forma de sítios na internet.

Os cristãos amam os escândalos, pois estão entediados com o evangelho, e porque preferem alcançar um senso de justiça olhando para os fracassos de outros ao invés de confiar em Jesus Cristo e obedecer os seus mandamentos. Alguns deles publicam livros e sítios na internet que são quase inteiramente dedicados a relatar escândalos atuais e oferecer suas opiniões sobre os tais. E eles chamam isso de fazer apologética. Não importa se os escândalos pertencem à religião e doutrina, política, economia, educação, história ou ciência – eles amam todos eles. Nada excita-os mais do que uma nova heresia, ou a queda de uma figura religiosa ou política. Eles adoram nada mais que discutir como outra pessoa blasfemou o Senhor, e como outra nova tendência procura subverter a sua influência.

Então, os cristãos amam perdoar aqueles que estão envolvidos em escândalos, e amam fazer uma grande exibição do seu perdão. O ditado preferido deles é: “Aquele que não tem pecado, que lance a primeira pedra”. E com isso eles querem dizer a mesma coisa quando os não cristãos dizem: “Ninguém é perfeito”. Espere aí, quem diz mais isso, os cristãos ou os não cristãos? Os cristãos pregam o que os não cristãos dizem tão frequentemente e com tanta convicção que é difícil dizer quais slogans estúpidos como esses deveriam ser atribuídos a um ou ao outro. Em todo caso, perdoar um escândalo sobre essa base faz os cristãos se sentirem muito generosos, e eles mal podem esperar o próximo escândalo para que possam perdoar esse também. Isso é admitidamente uma generalização. Muitos cristãos que gostam de escândalos ficam felizes o suficiente sem a parte do perdão.

Sem dúvida, podemos dizer que esses são cristãos maus. E se assim for, há uma superabundância de cristãos muito maus. O ensino da Bíblia sobre o assunto representa o oposto dessas duas tendências. Ele nos diz para odiar escândalos e evitar fofocas. Enquanto algo for mero boado, não quero ouvir sobre isso. Não é da minha conta. Não estou interessado nisso. Contudo, uma acusação que é sustentada por múltiplas testemunhas é outra questão. Se for descoberto que o líder de uma igreja está em pecado, que estejamos nos referindo à heresia, adultério ou alguma outra má conduta, não devemos encolher os ombros e chamar isso de perdão. A Bíblia nos ordena a expor e repreender publicamente essa pessoa, fazer dela um exemplo de forma que os outros possam temer o mesmo tratamento. Devemos exigir o seu arrependimento, e em muitos casos, a pessoa deveria ser removida do ofício.

O versículo 19 diz: “Não aceite acusação contra um presbítero, se não for apoiada por duas ou três testemunhas”. Isso não significa que uma acusação trazida por duas ou três testemunhas seja necessariamente verdadeira. É possível que as testemunhas sejam desonestas ou incompetentes. O ponto é que, a menos que uma acusação seja trazida por pelo menos duas testemunhas, “não aceite”. Isso é proteger o acusado de alegações injustas e frívolas. Nenhuma pessoa deveria ter sua reputação afetada ou sua obra arruinada por uma acusação sem fundamento. Essa proteção é especialmente importante para líderes da igreja, visto que sua obra torna-os o alvo de ataques invejosos e maliciosos do povo. O princípio é uma aplicação de Deuteronômio 19.15-21. Ali é dito que “os juízes investigarão o caso”. Assim, uma mera acusação não é suficiente para condenar um homem, mas uma acusação que parece ter alguma base é suficiente para exigir uma investigação.

A passagem também fornece um princípio sobre como lidar com um falso testemunho: “Se ficar provado que a testemunha mentiu e deu falso testemunho contra o seu próximo, deem-lhe a punição que ele planejava para o seu irmão. Eliminem o mal do meio de vocês. O restante do povo saberá disso e terá medo, e nunca mais se fará uma coisa dessas entre vocês. Não tenham piedade. Exijam vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé”. Deus olha para o perjúrio ou calúnia com extrema desaprovação, especialmente um falso testemunho com o potencial de arruinar outra pessoa. Como é dito nos Dez Mandamentos: “Não darás falso testemunho contra o teu próximo”. A igreja deve não somente considerar com seriedade acusações plausíveis, mas deve também compartilhar o ódio de Deus pelo falso testemunho.

A prescrição é “deem-lhe a punição que ele planejava para o seu irmão” e “eliminem o mal do meio de vocês”. Em nosso contexto, se for descoberto que um membro da igreja ofereceu falso testemunho contra um líder, com a intenção de embaraçá-lo, prejudicar sua reputação, solapar sua influência, ou mesmo removê-lo do ofício, então a repreensão e disciplina pública que teria sido aplicada ao líder deveria ser aplicada às falsas testemunhas. A igreja deveria abrir uma investigação contra esse testemunho, e se for confirmado que ele ofereceu falso testemunho, a igreja deveria denunciá-lo em público, e exigir que ele se arrependa e faça qualquer restituição apropriada para resolver as coisas, incluindo uma apologia pública ao acusado e uma declaração pública de esclarecimento à congregação. Se for verificado que ele ofereceu deliberadamente falso testemunho, ele deveria ser removido de qualquer ofício da igreja que tenha, e despojado de toda autoridade e influência na igreja. A menos que o pleno arrependimento e restituição sejam oferecidos, ele é um perverso que deve ser eliminado da comunidade cristã – ele deveria ser excomungado.

Ora, qualquer líder de igreja que seja perverso o suficiente para merecer ser despedido, e qualquer membro de igreja que seja perverso o suficiente para acusar um líder inocente, é provavelmente também mal o suficiente para processar a igreja por reforçar a instrução bíblica de expor publicamente o ofensor. Muitos membros de igreja valorizam sua dignidade mais que os mandamentos de Deus e o bem-estar da igreja. O motivo é que existem muitos falsos crentes em nossas congregações. De fato, os processos decorrentes da disciplina eclesiástica não são desconhecidos. Portanto, seria sábio para uma igreja consultar um advogado a respeito de como ele pode permanecer protegida no que concerne as políticas bíblicas. Muitas dessas políticas deveriam ser declaradas no regimento interno da igreja, o qual os oficiais e membros assinariam obrigatoriamente antes de serem aceitos em suas posições.

Se o Nosso Morrer for uma Disciplina?

 

Por John Piper

Meditação em 1 Coríntios 11.29-32

Viver para Cristo é bastante árduo. No entanto, morrer para Cristo é também muito difícil. Precisamos de toda ajuda que pudermos obter. É uma questão de fé. Confiaremos nEle até ao fim? Descansaremos em sua graça ou entraremos em pânico, imaginando que somos destinados ao inferno? Saberemos lidar com o medo de que o nosso morrer é um castigo e o prelúdio de algo pior? Oh! quantas dúvidas plantadas pelo diabo! Temos de aprender como repeli-lo com a espada do Espírito, a Palavra de Deus. Esta é outra parte de nossa defesa.

Suponhamos que pecamos realmente de um modo negligente e que desagradamos a Deus. Suponhamos também que sejamos "disciplinados" e "julgados" pelo Senhor, por consequência desse pecado, e que Ele nos envie uma doença. Cuidado! Eu não estou dizendo que sejamos "punidos" no sentido de sofrermos a penalidade do pecado. Cristo suportou a penalidade de todos os nossos pecados, na cruz: "Carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas, fostes sarados" (1 Pedro 2.24). Porém, usei a palavra "disciplinados" no sentido de repreensão, correção, purificação e preservação de pecados piores. "O Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe" (Hebreus 12.6).

Mas, o que você diz sobre a morte? Deus nos removeria por meio da morte como parte de sua disciplina? O apóstolo Paulo afirmou que, às vezes, Deus faz isso. Ao lidar com os pecados cometidos na Ceia do Senhor, Paulo escreveu:

"Quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si. Eis a razão por que há entre vós muitos fracos e doentes e não poucos que dormem [ou seja, que morreram]. Porque, se nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. Mas, quando julgados, somos disciplinados pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo" (1 Coríntios 11.29-32).

Em outras palavras, ficar doente, fraco e, até, morrer são formas de disciplinas do Senhor. O objetivo não é a condenação. Isso aconteceu na cruz. Para nós, não há "nenhuma condenação" (Romanos 8.1). O objetivo é "não sermos condenados com o mundo" (1 Coríntios 11.32). Em outras palavras, a morte é, às vezes, um livramento disciplinar que visa salvar-nos da condenação. "Há entre vós... não poucos que dormem [ou seja, que morreram]... para não sermos condenados com o mundo."

É claro que essa não é a razão de todas as mortes dos preciosos santos de Deus. Não conclua imediatamente que sua doença ou a sua morte se deve a uma trajetória de pecado, da qual você tem de ser libertado. Mas suponha que isso pode ser o que está acontecendo.

Isto é encorajador? Pensar nisto o ajudará a morrer mais tranquilo, com mais fé e esperança? Minha resposta é que todo o ensino da Bíblia tem como alvo ajudá-lo a morrer, bem como ser um encorajamento para a fé, à luz da verdade (Romanos 15.4).

Então, como esta verdade nos fortalece, para que tenhamos uma morte cheia de esperança? Talvez assim. O pensamento de que somos pecadores não é uma grande ameaça à nossa paz? O pensamento de que Deus é soberano e de que Ele poderia remover a doença, se quisesse, não nos ameaça com sentimentos de temor, quando sabemos que, se a doença permanece, Ele deve estar agindo contra nós? E como lidaremos com esses temores, quando sabemos que somos realmente pecadores e que a corrupção ainda permanece em nós? Nesses momentos, buscamos algum encorajamento na Bíblia mostrando-nos que Deus está disposto a salvar crentes que pecaram e são muito imperfeitos.

No entanto, sabemos que Deus é santo e odeia o pecado, até o pecado cometido por seus filhos. Também sabemos que Ele disciplina seus filhos fazendo-os passar por experiências dolorosas (Hebreus 12.11). Não somos daqueles que afirmam que Deus não tem qualquer relação com as experiências dolorosas da vida. Por isso, buscamos ajuda e esperança na Palavra de Deus, a qual é completamente realista. E achamos em 1 Coríntios 11.32 que a morte dos santos — a morte que é disciplina e julgamento — não é condenação, e sim salvação. Deus está tirando a vida do crente que está em pecado, porque o ama tanto que não permitirá que ele continue no pecado.

Isto é um poderoso encorajamento. Não é fácil de entendermos, nem é ensinado frequentemente. Mas é uma rocha firme. O que isto diz a todos nós é o seguinte: não precisamos estar certos de que o tempo de nossa morte se deve ao nosso pecado, ou à crueldade de Satanás (Apocalipse 2.10), ou a outros propósitos de Deus. O que precisamos realmente é a profunda segurança de que, se a nossa morte resultar de nossa tolice e pecado, podemos descansar tranquilamente no amor de Deus. Nesses momentos, estas palavras serão extremamente preciosas: "Somos disciplinados pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo". Deste modo, aprendemos a morrer tranquilos.

Você tem medo de morrer?



 
Por Maurício Zágari
Num espaço de apenas 13 dias tive de voar de avião 6 vezes, por razões ministeriais. É muito interessante a experiéncia de voar, em especial quando se enfrenta turbulência, porque aí você consegue ver bem como as pessoas têm medo da morte. Você vê de tudo em um avião sacolejante: gente fazendo o sinal da cruz, unhas cravadas no braço da poltrona, mulheres agarradas aos braços de seus maridos ou namorados e até mesmo gritinhos. O cristão, curiosamente, não reage diferente: demonstra o mesmo medo da morte que o não cristão. Já parou para pensar nisso? Jesus veio à Terra para nos abrir os portões da vida eterna. Lemos isso na Bíblia, celebramos nos louvores, afirmamos no Credo Apostólico, quando algum cristão morre consolamos a família dizendo que "ele foi promovido à presença do Pai", pregamos o Evangelho para "salvar almas"... só que quando a coisa é pra valer, quando pensamos na possibilidade da NOSSA morte, quase batemos na madeira três vezes. Alguns de nós até mesmo batem. Mas... que sentido faz esse medo diante de "...para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna"?

Salmos 116.15 afirma que "Preciosa é aos olhos do Senhor a morte dos seus santos". Que coisa estupenda! Já parou para pensar no sentido dessa frase? Quando um salvo deixa seu corpo e dá o passo dentro da eternidade, Deus considera isso algo precioso. O que é sinônimo de "valioso", talvez "importante". Então o ser humano que viveu com Cristo morrerá em Cristo. E Deus verá isso como algo de grande valor. Uma preciosidade. Fico imaginando uma morte daquelas que consideramos das mais trágicas - para usar o exemplo, um acidente de avião. Todos choramos, nos entristecemos, nos abatemos. Que morte horrível! Trágica! Mas  já parou para pensar como isso funciona para o cristão que morreu dessa maneira?

Bem, eu admito: nunca morri antes. Então o que vou dizer agora não é fruto de experiência.  Mas a Palavra de Deus dá tantas informações sobre como se processa esse fenômeno que podemos imaginar com uma certa razoabilidade. Então acredito que seja mais ou menos assim: estamos sentados na poltrona do avião quando, de repente, algo ocorre. Seja lá o que for, qualquer rasguinho na fuselagem causa uma despressurização que, em alguns segundos, no máximo, lhe leva a desmaiar. Vamos supor que o avião caia. Seu corpo deixa de ter as funções necessárias para a vida terrena e seu espírito é ejetado dele para a dimensão da eternidade.

Analisando em termos de consciência, penso que seja assim: estou desperto e, um segundo depois, apago, meio confuso. Já desmaiei algumas vezes, então sei como é: basicamente a visão escurece de fora para dentro, um zumbido ocorre no ouvido, dá uma certa moleza e...só. O resto é escuridão. É rápido, sem sofrimento. No caso de isso evoluir para o óbito, penso que um segundo depois cumpre-se aquilo que Jesus disse para o ladrão da cruz em Lucas 23.43: "Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso". Logo, suponho eu, pela análise das Escrituras, que poucos instantes após o desmaio ocorre enfim o que eu e você ansiamos mais do que tudo: vemos o Todo-Poderoso criador do universo face a face. Que momento esplendoroso, emocionante, magnífico! Então o Amor vira-se para você, sorri e diz: "Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor" (Mateus 25.23).

Que promessa! Que espetáculo! É enfim a concretização da esperança que nos acompanhou por toda nossa vida cristã! Deixamos de ver por espelho e contemplamos face a face o que é perfeito! Entramos na dimensão da presença palpável de Pai, Filho e Espírito Santo! Imagino que poderemos abraçar os anjos, conhecer enfim aqueles dentre eles que durante nosso bom combate acamparam ao nosso redor e nos protegeram, como diz Salmos 91.11: "Porque aos seus anjos dará ordens a teu respeito, para que te guardem em todos os teus caminhos". Sim, conheceremos enfim esses amigos invisíveis que tanto nos ajudaram sem que nem soubéssemos! E mais: reencontraremos os nossos parentes e amigos mortos em Cristo e de quem sentimos saudade por tanto tempo! Que grande festa! Que alegria! Passados os primeiros momentos de celebração e novidade dessa nova realidade nos incorporaremos na rotina das esferas celestiais.

É quando veremos cenas espantosas aos olhos humanos, como a que Isaías 6 descreve: "Eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as abas de suas vestes enchiam o templo. Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas: com duas cobria o rosto, com duas cobria os seus pés e com duas voava. E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória".  Depois veríamos se cumprir Apocalipse 4.8: "E os quatro seres viventes, tendo cada um deles, respectivamente, seis asas, estão cheios de olhos, ao redor e por dentro; não têm descanso, nem de dia nem de noite, proclamando: Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, aquele que era, que é e que há de vir".

E estaríamos presentes quando ocorresse o descrito em Apocalipse 7.9: "Depois destas coisas, vi, e eis grande multidão que ninguém podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com palmas nas mãos; e clamavam em grande voz, dizendo: Ao nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence a salvação. Todos os anjos estavam de pé rodeando o trono, os anciãos e os quatro seres viventes, e ante o trono se prostraram sobre o seu rosto, e adoraram a Deus, dizendo: Amém! O louvor, e a glória, e a sabedoria, e as ações de graças, e a honra, e o poder, e a força sejam ao nosso Deus, pelos séculos dos séculos. Amém!". E nós estaremos ali, como testemunhas oculares de tudo isso. Que extraordinário...

Fato é que temos pavor da morte, nós, cristãos. Mas... você não anseia desfrutar da plenitude do amor de Deus? Então ouça o apóstolo Paulo, que, conforme diz em 2 Coríntios 12, foi testemunha ocular do que nos espera um passo além da morte: "Conheço um homem em Cristo que, há catorze anos, foi arrebatado até ao terceiro céu (se no corpo ou fora do corpo, não sei, Deus o sabe) e sei que o tal homem (se no corpo ou fora do corpo, não sei, Deus o sabe) foi arrebatado ao paraíso e ouviu palavras inefáveis, as quais não é lícito ao homem referir". E esse mesmo Paulo, que viu o que nos aguarda, afirma peremptoriamente em Romanos 8.38: "Porque eu estou bem certo de que NEM A MORTE, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor". Que delícia ouvir isso. E o que Paulo pôde ver no Reino que nos espera após a morte o fez incisivamente declarar em Filipenses 1: "Com toda a ousadia, como sempre, também agora, será Cristo engrandecido no meu corpo, quer pela vida, quer pela morte. Porquanto, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro". Uau. E ele prossegue no versículo 22: "Entretanto, se o viver na carne traz fruto para o meu trabalho, já não sei o que hei de escolher. Ora, de um e outro lado, estou constrangido, tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor".

Incomparavelmente melhor. Você consegue alcançar a amplidão dessa expressão? Significa que aquele passo que daremos para fora do corpo não tem nível de comparação com o que vivemos hoje. E o mais fantástico: para melhor. Ou seja: o que o homem que Deus permitiu ver o que existe naquele estado que chamamos de "morte" afirma é: o que existe ali é tão, mas tão melhor do que aquilo que vivemos nesta terra que é impossível comparar. E as promessas para o porvir dos salvos não param por aí: "Todavia, como está escrito: 'Olho nenhum viu, ouvido nenhum ouviu, mente nenhuma imaginou o que Deus preparou para aqueles que o amam'." (1 Coríntios 2.9)

Bem, diante disso tudo, o que dizer? Deus pôs dentro de cada um de nós o instinto de sobrevivência? Sem dúvida. Nenhum de nós diria "quero morrer hoje" graças a esse instinto.  Mas isso se deve única e exclusivamente a esse impulso irracional e animal de manter-se vivo a todo custo. Racionalmente, diante de tudo o que está descrito acima e muitas outras passagens sobre o chamado Paraíso, por que nós, cristãos, deveríamos temer a morte? Não é incoerente? Por que deveria um cristão ter medo de voar de avião? O que nos impede de dizer "para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro"? Te digo: falta de fé. A incerteza acerca daquilo que está escrito e descrito na Palavra de Deus.

Se existir um pingo de dúvida acerca do que a Bíblia afirma existir na vida após a morte, temeremos. Já ouvi cristãos dizerem "não tenho medo da morte, mas de sofrer na hora da morte". Bem, mas nossa vida não é um oceano de sofrimentos? Acordar de manhã não é garantia de que vamos sofrer muitas vezes até nos deitarmos para dormir à noite? Sofremos dores físicas, psicológicas, emocionais, inseguranças, medos, dúvidas... viver é sofrer. Então... medo de morrer por causa do sofrimento que pode haver no instante de dar esse passo para "o tabernáculo de Deus com os homens", onde, segundo Apocalipse 21, "Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram"? É preferível permanecer?

Sim, medo de sofrer. Mas é um medo que ocorre em quem nunca leu com atenção Romanos 8.18 e introjetou a ferro e fogo em sua alma o que essa passagem nos promete claramente: "Os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós". Como temer o além-vida se cremos nisso?

A morte para o salvo não é nossa inimiga. É nossa libertadora. É uma amiga que nos tomará pela mão e nos conduzirá até o descanso. Até a meta. Até o porto seguro. Até Jesus Cristo, nosso amigo. Ao lado de quem viveremos pelos séculos dos séculos - em paz.
E é essa paz que desejo a todos vocês que estão em Cristo. A paz eterna.

Quem tem medo da Missão Integral?

 
Por Marcelo Lemos

Recentemente topei com o seguinte questionamento no Facebook (tomo a liberdade de reformular a questão, colocando-a na interrogativa): “Por qual motivo os líderes que combatem a Teologia da Prosperidade não combatem com a mesma força a Teologia da Missão Integral?”

Por trás desse questionamento há a ideia de que a Teologia da Missão Integral nada mais é que uma “variante da Teologia da Libertação”, uma visão marxista da vida e da sociedade dentro da Igreja evangélica. Ou seja, assim como os católicos reúnem seus marxistas ao redor da Teologia da Libertação, os evangélicos reúnem os seus na mesa da Missão Integral. Bem, se isso é verdade, a Missão Integral deve ser tida como coisa anátema. Sei que isso deixará chateados meus irmãos mais ‘progressistas’. Lamento.

Considero tal questionamento valioso, e por isso, tento em algumas linhas traçar algumas observações que refletem meu posicionamento pessoal sobre a questão.

Para começar, uma pergunta: que a Missão Integral tem haver com marxismo? Muitos que hasteiam a bandeira da TMI defendem a ideologia da luta de classes, o ideal revolucionário, e assim por diante. Não é difícil encontrar pastores evangélicos, de renome, abertamente adeptos da TMI, defendendo (ou sendo condescendente com) o aborto, o casamento homossexual, o intervencionismo estatal, o paternalismo, a luta de classes, e tantas outras coisas semelhantes – certamente em defesa do tal estado laico, do bem comum, da ‘justiça social’ ou qualquer outra coisa de nome bonitinho. Isso é Missão Integral?

Uma rápida pesquisa na Internet irá mostrar diversos sites onde se diz que a Teologia da Missão Integral nasceu na América Latina, e é uma ‘resposta’ da Igreja local contra a teologia dos imperialistas e colonizadores. É nossa [evangélica] teologia feita a partir da ótica dos oprimidos. Bem, pode até ser, querida Wikipédia.

Contudo, a coisa não é tão simples assim. Historicamente, a base da Missão Integral é um documento chamado Pacto de Lausanne, que de marxismo e luta de classes não tem nada. O que esse documento diz, e não tem nada de errado com isso, é que a pregação do Evangelho não visa preparar o homem apenas para o céu, mas também para a vida terrena. Ou seja, o Evangelho é capaz de restaurar a alma e o corpo do homem, a pessoa por inteiro. Daí o nome missão integral.

Afinal, como a Missão Integral chegou a ter sua imagem associada ao marxismo? Infelizmente, a interpretação do Pacto de Lausanne foi politizada por inúmeros líderes evangélicos latino-americanos, incluindo brasileiros. Essas pessoas deram uma leitura marxista para o documento de Lausanne, e o estrago aconteceu. E muitos demonizam o Pacto de Lausanne por isso. Tal demonização se justifica? Estou convencido que Lausanne não tem nada haver com essa visão simplista, romântica e ingênua do mundo, defendida pelos teólogos marxistas. Na verdade, a profundidade teológica de Lausanne é tão factual, que os delírios juvenis dessa gente mal conseguem atingir a superfície.   

Ora, o Pacto de Lausanne é um documento cristão, ortodoxo e reformado. O liberalismo moral (aborto, homossexualismo, etc), e o marxismo passam bem longe de suas linhas, como facilmente se pode demonstrar com algumas citações.

DEUS E SUA SOBERANIA:
“Afirmamos nossa crença no único Deus eterno, Criador e Senhor do Mundo, Pai, Filho e Espírito Santo, que governa todas as coisas segundo o propósito da sua vontade” (Artigo 1).

AUTORIDADE DAS ESCRITURAS:
“Afirmamos a inspiração divina, a veracidade e autoridade das Escrituras tanto do Velho como do Novo Testamento, em sua totalidade, como única Palavra de Deus escrita, sem erro em tudo o que ela afirma, e única regra infalível de fé e prática” (Artigo 2).

EXCLUSIVISMO DO EVANGELHO:
“Reconhecemos que todos os homens têm algum conhecimento de Deus através da revelação geral de Deus na natureza. Mas negamos que tal conhecimento possa salvar, pois os homens, por sua injustiça, suprimem a verdade” (Artigo 3).

CONTRA O SINCRETISMO RELIGIOSO:
“Também rejeitamos, como depreciativo de Cristo e do evangelho, todo e qualquer tipo de sincretismo ou diálogo cujo pressuposto seja o de que Cristo fala igualmente através de todas as religiões e ideologias”.

O RETORNO DE CRISTO:
“Cremos que Jesus Cristo voltará pessoal e visivelmente, em poder e glória, para consumar a salvação e o juízo”.

Que isso tem haver com marxismo? Que isso tem haver com Teologia da Libertação? Que isso tem haver com liberalismo moral? Que isso tem haver com a negação de doutrinas fundamentais da Fé Cristã, como se vê no discurso de famosos líderes ligados a Teologia da Missão Integral? Vale a pena recordar que um famoso expoente da TMI no Brasil, causou polêmica ao afirmar que o Retorno de Cristo é mera utopia, que Deus não é soberano sobre a História, e tantas outras heresias. Nada disso encontra respaldo no Pacto de Lausanne, portanto, se Missão Integral é qualquer dessas coisas, devemos afirmar que Lausanne e Missão Integral são coisas completamente distintas.

Seja como for, havendo ou não relação legítima entre Lausanne e TMI, o fato é que existe uma Teologia da Missão Integral. Essa deve ser a missão da Igreja, se é que realmente almejamos tornar o Reino de Deus visível entre os homens: “assim na Terra como [é] no céu”. E creio que a verdadeira Missão Integral da Igreja está muito bem exposta e representada no Pacto de Lausanne, um documento cristão, ortodoxo e evangélico por natureza. Quanto a Teologia da Missão Integral ‘politizada’, e por isso mesmo, falsa e não integral, digo que sequestrou o Pacto de Lausanne, causando prejuízo imenso à Igreja.

Acredito necessária essa distinção a fim de manter as coisas em seus devidos lugares. Certamente o leitor conhece aquela anedota que fala de alguém que viu a água da banheira suja, e jogou fora também a criança que tomava banho. Pois bem, se é verdade que alguns sequestraram Lausanne em nome de uma falsa Missão Integral, cabe a nós resgatarmos sua legitima teologia em prol de da verdadeira integralidade da Pregação Cristã.

Infelizmente, ocorre que para algumas pessoas, o simples fato de um documento como Lausanne fazer menção ao papel social da Igreja, já é o bastante para transformá-lo em uma conspiração marxista! Contudo, denunciar explorações, desigualdades, discriminações e injustiças sociais não é criação do marxismo. Lutar por uma sociedade melhor não é criação marxista. Na verdade, me perdoem alguns, o marxismo é justamente o oposto de tudo isso (risos). E se existe algo capaz de transformar o mundo, esse algo atende pelo nome de Evangelho. O Pacto de Lausanne, assim como a Doutrina Social da Igreja (documento da Igreja Católica), tentam apenas apontar alguns valores bíblicos para a vida em sociedade, e se alguns politizam suas assertivas, lamento.

Por fim, creio que apenas na Teologia Reformada podemos encontrar uma teologia realmente Integral. Não há dicotomias no pensamento reformado. Não acreditamos na existência de algo especial na vida monástica, ou no legalismo religioso. Não sacrificamos o corpo em prol do espírito, ou vice-versa. Para nós, o homem é um todo, e a vida cristã também. Confessamos que a Bíblia é toda suficiente e necessária, possuindo resposta para todas as perguntas do homem. Isso é missão integral.
 

Somos Todos Medrosos

Por Clodoaldo Machado
Desde que o pecado adentrou a humanidade, o medo passou a fazer parte dela. Adão e Eva, tão logo ouviram a voz de Deus após terem desobedecido a Ele, tiveram medo (Gn 3:10). Desde então temos convivido com o medo. Alguns têm medo de uma coisa, outros de outra. Há pessoas que têm medo da violência dos homens, outros têm medo de doenças, outros têm medos espirituais, tais como de ataques de demônios. Há pessoas que podem dizer que não têm um determinado medo, mas afirmam ter outro. Assim, os tipos de medo variam de pessoa para pessoa, e todos padecem de alguma espécie dele. Mesmo aqueles que afirmam não ter medo de nada defendem sua própria vida, demonstrando assim um medo de perdê-la.

Não é difícil reconhecermos que há vários tipos de medo e que todos são acometidos por, pelos menos, um destes tipos. O que é difícil é reconhecermos que há um tipo específico de medo que acomete todos os seres humanos. Há uma modalidade específica, da qual nenhum ser humano está livre. Esta é o medo do homem. Nem todos estão dispostos a admitir, mas a Bíblia afirma que todos tememos o homem. Não é um temor da violência do homem, como já foi mencionado aqui; é um temor do pensamento do homem.

Notemos, por exemplo, os adolescentes. Eles se vestem, falam, se comportam, escolhem seu entretenimento como resultado da pressão de outros sobre eles. A decisão de ser membro do grupo ou o medo de ser diferente é uma demonstração clara de que eles temem o homem. Este temor exerce controle sobre suas vidas, ainda que não vejam desta forma ou não admitam isso.

Não é diferente com os mais velhos. Nós também estamos o tempo todo sendo pressionados pelo temor do pensamento das outras pessoas a nosso respeito. Quando falamos de moda, por exemplo, tememos nos vestir de maneira a parecermos ridículos para os outros, assim os outros determinam como temos que nos vestir. Não estou estimulando que devemos nos vestir sem nos preocuparmos com os outros, mas apenas demonstrando que temos medo do pensamento dos outros. Nos preocupamos o tempo todo com o que estão pensando de nós. Isso é temer o homem. Temos que admitir: existem medos variados, mas o medo do pensamento do homem acomete a todos.

O temor do homem é resultado do pecado e Jesus afirmou que veio nos libertar do pecado (Jo 8:32,36). Assim, a obra da nossa salvação nos transforma de tal maneira que temos condições de vencer o temor do homem. Além disso, a Bíblia é enfática em nos dizer que devemos temer somente a Deus. Tudo que fazemos então deve ser pelo temor a Deus, tudo deve ser feito de maneira que Ele seja glorificado.

O ensino de Jesus em Mateus 23:1-12 nos ajuda a lidar com o medo que temos das outras pessoas. Jesus estava no templo em Jerusalém, dias antes de sua morte, e passou a falar às multidões e aos seus discípulos. Ele falou que eles deveriam fazer e guardar o que os escribas e fariseus falavam, mas não deveriam imitá-los em suas obras, porque falavam, mas não faziam (vv.1-3).

Jesus define a motivação dos escribas e fariseus no versículo 5: Praticam, porém, todas as suas obras com o fim de serem vistos dos homens... Os escribas e fariseus tinham medo dos homens, certamente não admitiam, mas temiam o julgamento dos homens. Jesus afirma que não devemos agir como eles, por isso temos que admitir que nossa tendência é a mesma: fazemos as coisas para sermos vistos pelos homens. Todo mandamento na Bíblia nos faz atentar para o fato de que somos susceptíveis a desobedecê-los. Se Jesus afirma que não devemos ser como os escribas e fariseus é porque temos a tendência de sermos como eles. Devemos observar as palavras de Jesus sobre os escribas e fariseus e ter o cuidado de não agirmos como eles. Podemos enumerar três cuidados que devemos ter para que nosso temor seja dirigido somente a Deus.

Primeiro, devemos ter cuidado com a demonstração de espiritualidade aos homens. Ainda no versículo 5 Jesus diz que eles alargavam seus filactérios e alongavam suas franjas. Deus havia ordenado que a Lei fosse atada perante os olhos e na mão (Dt 6:8). A ordem de Deus era um simbolismo de obediência total. A Lei na cabeça, entre os olhos, simbolizava todo pensamento voltado para Deus, e na mão todas as atitudes. Para isso, foi criada uma caixinha de couro onde quatro textos da Lei seriam colocados. Esta caixinha era o filactério. Deus também ordenou que se atassem borlas nos cantos das vestes para que se lembrassem de sua Lei (Nm 15:39). Os líderes judeus transformaram estes dois mandamentos de Deus em uma tradição vazia de significado, que servia apenas para manter as aparências perante as pessoas. Por isso, eles aumentavam o tamanho de seus filactérios e alongavam as franjas de suas vestes, assim pareceriam mais espirituais.

Temos a mesma tendência. Em Mateus 6:1 Jesus nos advertiu: Guardai-vos de exercer a vossa justiça perante os homens, com o fim de serem vistos por eles. Quando nos convertemos e somos incluídos na Igreja do Senhor Jesus, corremos o sério risco de fazermos as coisas para sermos vistos pelos outros. Queremos parecer espirituais para nossos irmãos. Os crentes não querem que outros saibam que eles assistem a novelas, ou veem qualquer outra coisa, tanto na TV quanto na internet, porque isso os envergonharia perante as pessoas. Na verdade acabam mais preocupados com o pensamento dos outros do que com o de Deus. Muitas vezes, vivemos administrando nossa vida espiritual para os outros e não para Deus. Cuidemos para que o zelo por nossa vida espiritual não seja para sermos vistos pelos outros.

Segundo, Jesus nos adverte a ter cuidado com a busca por posição perante os homens. No versículo 6, ele afirma que os escribas e fariseus amavam o primeiro lugar nos banquetes e nas sinagogas. Eles queriam ser sempre o centro das atenções, gostavam de ter o respeito das pessoas. Os próprios discípulos também viviam disputando para ver quem era o mais importante. Tiago e João, por meio de sua mãe, pediram a Jesus para sentarem um à direita em o outro à esquerda de Jesus quando este viesse em seu reino (Mt 20:20-24); e os outros ficaram indignados com eles, pois também se achavam dignos destes lugares. Assim somos nós, queremos posição entre os homens. Se não tivermos o reconhecimento das pessoas, tememos o que pensarão de nós. Não gostamos de ser diminuídos em nada. Quantos de nós não se sentem ofendidos porque nossa data de aniversário não apareceu no boletim da igreja? Muitos são capazes de entrar em atrito com o secretário da igreja por causa disso. Por que isso acontece? Porque gostamos de estar em evidência, amamos os primeiros lugares. Gostamos de ver nosso nome aparecer. Jesus afirma que devemos lutar contra isso. Precisamos ficar satisfeitos quando, por algum motivo, somos diminuídos. Isso faz com que Deus seja engrandecido em nossas vidas.

Em terceiro lugar, Jesus nos adverte a ter cuidado com a procura de títulos reconhecidos pelos homens. No versículo 7, Jesus diz que os escribas e fariseus gostavam das saudações nas praças e de serem chamados mestres pelos homens. Eles adoravam quando as pessoas se referiam a eles por seus títulos. Assim como eles, nós também temos paixão por títulos. Nosso coração deseja que nosso nome seja aumentado com um título. O título eleva o ego, nos engrandecemos com ele. Com os títulos nos sentimos superiores aos outros. Sem perceber, ficamos distantes do que Paulo escreve em Fl 2:3: "Cada um considere os outros superiores a si mesmos"

Somos chamados para sermos servos. Servos sequer tinham nomes, não perguntavam de quem eram filhos, não queriam saber sobre seu passado, apenas designavam-lhes tarefas para serem executadas. Por que muitos crentes não querem executar trabalhos simples na igreja? Porque isso não lhes confere nenhum título. Gostamos de fazer coisas que aparecem, muitos querem ser chamados de professores, pastores, líderes. Sem perceber, nos assemelhamos muito aos escribas e fariseus. Devemos ter cuidado para não desejarmos ser chamados mestres pelos homens. Tememos as pessoas e queremos que nos vejam por meio dos títulos.

Vemos nestas palavras de Jesus a luta que devemos travar contra nós mesmos. Somos tomados pelo medo dos homens. Temos medo de que pensem que não somos tão espirituais quanto queremos que eles pensem. Temos medo de não parecermos importantes para eles. Queremos ter uma posição elevada perante eles. Desejamos ser respeitados pelos homens e temos o medo de não sermos reconhecidos por eles. Assim amamos os títulos. Isso tudo resume o temor para com o homem. 

Todos padecem deste mal, mas em Cristo recebemos tudo o que precisamos para vencê-lo. E a vitória virá quando entendermos que fomos chamados para sermos diminuídos. O maior para Deus será o servo (v.11), literalmente o escravo, o mais baixo em uma casa. Somos chamados para humilharmos a nós mesmos (v.12). A estes, Deus exaltará. Reconheçamos nosso medo dos homens, lutemos contra ele para que temamos somente a Deus. O caminho para isso é a humildade!

Fonte: Editora Fiel

E quando todos esquecem?


Por Alexandre Nobre

Uma das experiências mais difíceis na vida cristã é quando passamos por alguma dificuldade e, de uma hora para outra, parece que não há ninguém quem nos possa ajudar. É difícil sim ... e dói ... como dói! Mas esse tipo de experiência, invariavelmente, todos os cristãos passam; aliás me atrevo a dizer que esse “deserto” em meio à dificuldade é algo que todos os seres humanos experimentam, sejam cristãos ou não.

Mas, falando do deserto na vida cristã, posso dizer, eu já passei por ele, você provavelmente também, mas por mais que essa experiência seja um tanto comum, a maneira de lidar com essa situação é muito particular, ou seja, cada um de nós reagirá de forma pontual diante dos desertos da vida espiritual.

Claro que esse post não tem a intenção de ser o manual da vida cristã no deserto; definitivamente não! Porém, algumas experiências vividas e o desabafo de uma irmã em Cristo me impeliram a escrever de forma objetiva como podemos enfrentar esse sofrimento; claro que tudo isso seria nada, se o que você vai ler a partir de agora não estivesse pautada nas Escrituras Sagradas.

Como descrevi, foi o desabafo de uma irmã que me fez relembrar meus desertos, de como eles me fizeram chorar e de como me ensinaram. Nessa conversa, a irmã me disse a seguinte frase: “(...) me senti assim sem rumo olhando para um lado pro outro e não via ninguém nada pra onde eu pudesse correr”. A conversa se estendeu por vários minutos, quase uma hora, e biblicamente tentei apresentar forças à minha irmã; forças essas que, obviamente não vêm de mim, mas da Palavra de Deus e do Espírito Santo.

Essa irmã resolveu não me contar o real motivo desse sofrimento. Mas enquanto ela desabafava, minha mente montava a cena, quadro a quadro, cada palavra que ela me falava me fazia imaginar seu sofrimento. E, após ouvi-la atentamente, resolvi expor minha opinião e de alguma forma ajuda-la a enfrentar essa situação.

Claro que minhas palavras não salvaram minha amiga do seu sofrimento, mas sabemos que toda a palavra de Deus é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, redargüir, e instruir em justiça (II Tm 3:16) e o Senhor foi glorificado em Sua Palavra.

Essa situação me fez pensar muito sobre o deserto da vida cristã. Por que acontece? Por que Deus permite? Por que parece que Deus nos esqueceu? Como em tudo e em todas as coisas, a Palavra de Deus tem as respostas, vejamos:

No deserto, conhecemos a nós mesmos

É justamente nos piores momentos da vida que revelamos nossa verdadeira natureza. Quando somos perseguidos, destratados, deixados de lado, esquecidos; nesses momentos o que era prioridade fica em segundo plano; aquilo que não vivíamos sem, nessas horas são esquecidas em algum canto da casa; dessa forma, invertemos padrões e mudamos conceitos. É muito comum nos surpreendermos conosco quando passamos por grandes dificuldades. A raiva escondida vem à tona; o orgulho velado se eleva e se apresenta; o medo oculto se revela; e não adianta mais máscaras: somos nós sim; patentes e nus diante de Deus e de nós mesmos. E é justamente aí que precisamos fazer uma auto avaliação. Quem somos? O que nos levou a agir dessa forma? Esse momento também é importante para analisarmos nossa fé em Deus, afinal se estamos desesperados, pode ser que não estejamos tão inabaláveis assim. É preciso pensar a respeito.

No deserto, nosso caráter é provado e aperfeiçoado

Uma famosa frase do filosofo grego Epicuro (341-270) diz que “Os grandes navegadores devem sua reputação aos temporais e tempestades”. Espiritualmente, é no deserto que podemos ser aperfeiçoados em Deus, pois toda nossa independência é colocada à prova e, muitas vezes por estarmos cansados de lutar contra as provações, nos rendemos sem reservas aos cuidados de Deus. É aí que começa a prática do salmo de número 40, onde não temos mais opções, a não ser esperarmos com paciência no Senhor, confiando em Seu cuidado e correção.

No deserto, Deus nos trata de forma especial

É impossível não se emocionar quando lembramos dos cuidados do Senhor sobre nossas vidas quando passamos pelo “vale”. Nos momentos em que parece que estamos distantes de Deus, na verdade, por Ele estamos sendo provados e aperfeiçoados. O profeta Oséias, em seu livro, traz uma interessante palavra de qual é nossa situação quando estamos no deserto. No capítulo 13, verso 5, ele diz: “Eu te conheci no deserto, na terra muito seca”. O contexto da mensagem diz respeito a como Deus tratou com seu povo, tirando-o do Egito, atravessou o deserto e como Israel se entregou à idolatria. Deus conhecia o futuro de Israel, porém em Sua longanimidade Ele se voltou ao Seu povo, e dele teve misericórdia. O período do deserto de Israel foi de aprendizado, pois suas ações ficaram registradas na memória do povo, de geração à geração, provando a misericórdia do Senhor. Deus tratou Seu povo de forma especial e única; assim, quando, em comparação, passamos pelos nossos desertos na vida espiritual, Ele nos trata de forma especial também.

Então ...

Não nos esqueçamos que, mesmo em meio ao silêncio de Deus; à Sua provação e repreensão, Ele sempre olha pelos Seus filhos. Veja o que diz Isaias no capítulo 49, verso 15: “Porventura pode uma mulher esquecer-se tanto de seu filho que cria, que não se compadeça dele, do filho do seu ventre? Mas ainda que esta se esquecesse dele, contudo eu não me esquecerei de ti.”Aleluia!! Que maravilhosa promessa!! Se você está passando pelo deserto espiritual, ou ainda venha a passar, em tudo ofereça a Deus sua adoração. Que suas lágrimas, seus gemidos e até sua tristeza sejam para a glória Dele, pois essa leve e momentânea tribulação produzirá em você um peso de glória mui excelente (II Co 4:17).

Se quando passares pelas provas do deserto espiritual, e, assim como minha amiga, procurar ajuda nas pessoas e não encontrar, não desanime. Uma conhecida música evangélica diz assim: “Se tanta gente tentou te ajudar mas não deu, não julgues, porque é de Deus; tem coisas que só Jesus faz”. É bem verdade ... Deus pode permitir que passemos pelos desertos e que todos à nossa volta nos abandonem para que provemos da fidelidade do Senhor, assim como Seu povo Israel no deserto; assim teremos mais confiança e comunhão com nosso Deus, e assim como Jó, poderemos dizer: “Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te vêem os meus olhos.”

Que o Deus de paz nos ajude!

"Até Quando?"


Por Leandro Siqueira
Em todos esses meus anos de caminhada na fé, que não são tantos, se comparados aos que tenho pela frente, vejo um incontável número de pessoas que um dia declararam a fé em Cristo publicamente, hoje vivendo nas mesmas práticas, ou outras ainda piores do que aquelas nas quais andavam antes de estarem presentes nas fileiras de nossas denominações. Isso sem contar os que ainda se encontram em tais fileiras. Tenho meditado muito sobre isso, principalmente porque alguns ainda procuram embasamento nas Escrituras para defenderem seu posicionamento atual de rebelião contra Deus e Sua Santa Palavra. Coisas como “sete vezes cairá o justo, e se levantará” (Pv 24:16), “o espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26:41), ou então que “De maneira que agora já não sou eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim” (Rm 7:17), entre muitas outras. Usam o pecado de Davi para defenderem seu comportamento, quando a dureza do coração mais se parece com Saul. Alguns que tenho encontrado até param para conversar comigo, outros sequer querem dar ouvidos. Os que usam Davi como exemplo não seguem a mesma atitude de arrependimento que o rei teve quando foi confrontado pelo profeta Natã. Alguns me procuram, outros fogem. Encontro grupos variados. Alguns que realmente se vêem desesperados, querendo fugir das garras do pecado, mas não conseguem. Outros que querem que eu traga algo que conforte seus corações, mas que não os desafie a andar na Luz, no caminho estreito, porfiando em passar pela porta estreita, pois o próprio Senhor disse que poucos são os que por ela passarão. Explico sempre que antes de tudo importa nascer de novo (Jo 3:3,7), e isto é uma ação que começa em Deus e termina Nele. Alguns afirmam que nasceram, mas seus frutos têm mostrado algo bem diferente. Que fique claro que não me refiro à maturidade na fé, me refiro a um compromisso consciente para com Cristo. Suas obras são más, e têm criado um Deus para si, deus este que compactua com todas as suas práticas de imoralidade, avareza, mentira, bebedices, iras, dissoluções, maledicências, vaidade, soberba. Um Deus que supostamente chama seus filhos para caminhar rumo à eternidade com Ele, sem que aborreçam suas vidas neste mundo, chegando ao ponto de um me dizer abertamente: “eu bebo, fumo, pego mulezinha por aí, mas vou pro céu, PORQUE Deus conhece meu coração”. Ou seja, simplesmente desprezam a Graça de Deus, afirmando que o que os levará para a eternidade na presença do Altíssimo é algo bom que Deus achou em seus corações. Eles realmente são culpados, e caso não se arrependam, não serão poupados da Ira Vindoura.

Diante disso uma questão fica em evidência: Serão eles os únicos culpados de suas condenações? Não quero, de forma alguma, anular a responsabilidade individual da condenação de cada um (ensino claro das Escrituras. Ez. 18), mas será que devo desprezar o que tem sido pregado no evangelicalismo atual? Mestres que têm se preocupado mais em ensinar como viver neste mundo do que chamar pessoas ao arrependimento, que se convertam de seus maus caminhos. Temas importantes e fundamentais como “A ira de Deus”, “Justificação”, “Regeneração”, etc, foram execrados dos púlpitos, e argumentam que o motivo é justamente o fato de haverem muitas pessoas novas, e isso poderia afastá-las. Argumentaram pra mim que o lugar de arrazoar acerca destas coisas é no Seminário. Ou seja, você precisa entrar para um grupo específico para compreender a BASE do Evangelho. Simplesmente absurdo! Mais absurdo ainda é que tais seminários não são gratuitos, ou seja, você só entra para tal grupo seleto se tiver um certo poder aquisitivo. O que contradiz este argumento é que quando lemos as cartas neo-testamentárias, percebemos que elas eram endereçadas a igrejas compostas em sua esmagadora maioria por incultos e iletrados. Hoje é difícil encontrar algum analfabeto sentado nas fileiras de uma boa parte das denominações, e ainda assim não se pode falar no púlpito acerca de coisas que são a base do Evangelho. É uma incoerência que chega a irritar. Em João 6 vemos que a mensagem do Senhor Jesus foi dura, fazendo com que a multidão fosse embora, ficando apenas os doze. Na igreja de hoje ouvimos uma mensagem fraca, com o objetivo de manter toda a multidão, preterindo aos doze dispostos a ouvir as palavras de vida eterna. Querem que as pessoas se regozijem com a mensagem do Rei de que não punirá alguns dos rebeldes, e que esse Rei os ama, sem sequer explicar a rebelião, e porque você nasceu em rebelião. Querem que compreendam a Graça sem entender o peso da Ira de Deus esmagando Seu próprio Filho Jesus Cristo (Is. 53:10a), para não aplicá-la em mim, ou em você. E nisto me questiono: Devo mesmo desprezar a responsabilidades de tais mestres? Não sabem eles que serão julgados com maior rigor (Tg 3:1)? É impressionante o número de pessoas que aparecem com os mesmos discursos: “Tô mal, o clima lá em casa tá ruim. Tô precisando ir pra igreja”, ou “Meu casamento vai de mal a pior, meu marido não pára de beber. Preciso ir pra igreja”, ou “quero parar de usar drogas, vou pra igreja”. Elas estão erradas, em certos aspectos, de pensarem assim, e uma boa parte da culpa de assim procederem é exatamente da igreja. E o pior, tem muitos que continuam lá até conquistar tais objetivos. O tempo passa e jamais compreendem o real motivo da cruz de Cristo. Claro que não estão isentos de culpa, visto que a Bíblia está exposta a todos. Eu mesmo posso ser testemunha disto, pois uma boa parte do que aprendi a respeito da verdadeira fé não veio de púpitos, pelo menos não dos púlpitos de denominações em que estava na platéia. Vi muitos homens de Deus pregando nesse tempo de caminhada, principalmente através da internet, assistindo, John Piper, Paul Washer, Caio Fábio, entre tantos outros. Aprendi em debates em comunidades do orkut. Aprendi em inúmeros livros, e também com irmãos cheios de zelo pela Palavra. Mas aprendi, pricipalmente, com ela, a Bíblia Sagrada. O alimento que estão dispostos a te fornecer serve apenas pra te manter na religião evangélica, o que é mais uma religião entre tantas outras, que verdadeiramente não conduz ao Deus das Escrituras.

Um dia destes li uma reportagem da Revista ISTOÉ sobre um jogador, craque do nosso futebol. Descobri pela reportagem que ele é evangélico, criado desde novo na igreja. Seu pastor aparece na matéria todo orgulhoso ao falar sobre ele como membro de sua denominação. No texto fala sobre sua vida promíscua, onde pega um de seus carrões importados, passa na casa de uma menina, a leva para o motel, depois volta, deixa esta, anda 3 quarteirões e pega a outra e leva para o mesmo destino. E se diz seguidor de Cristo? Na reportagem dizia que ele era também fiel em seu dízimo de cerca de 40 mil reais. Pensei muito sobre isso, e cheguei a uma conclusão que me parece óbvia: Patrocinadores de denominações (às quais eu poderia chamar de empresas sem nenhum peso na consciência). Esse é um ótimo motivo para tais líderes de denominações não confrontarem o pecado de forma dura, assim como as Escrituras incitam. Não seria intere$$ante confrontar o pecado daquele que é o maior $u$tentador de sua denominação. É mais interessante que ele continue sentado nas fileiras da igreja, não importa se está convertido ou não, não importa se vai para o céu ou não, o que importa é que seja um dizimista fiel. O pastor do rapaz ainda diz na reportagem que sempre pede a ele para dar seu testemunho. Mas testemunho de quê? Qual o testemunho será dado? De como ficou milionário? De como comprou seu primeiro carro importado? De como faz para colecionar mulheres e viver na prostituição, lascívia e promiscuidade?

Até quando? Quantos mais continuarão sentados em nossas denomições, vivendo em rebelião, sem que dos púlpitos sejam chamados ao arrependimento? Até quando a religião será a única coisa que receberemos dos púlpitos? Quando é que pregarão a Verdade? É simplesmente desanimador. Cheguei ao ponto de ver qual será o pregador do culto de domingo para ver se vale a pena ir ou não, pois de acordo com o que é falado eu peco mais do que se estivesse em outro lugar. Peco irado e indignado com o descaso com a pregação do Evangeho genuíno. Portanto não é surpreendente que eu encontre pessoas que falem que irão para o céu, mesmo vivendo em toda sua prática de rebelião contra o Deus Todo Poderoso. Sofro com isso, e tenho muitos amigos que caminham comigo que sofrem também. Escrevo isso com lágrimas nos olhos, e me perguntando: Até quando? Quando comecei a caminhar na fé, li muitos estudos que diziam a Babilônia prostituta que lemos em Apocalípse era a Igreja Católica. Hoje, sinceramente, não ficaria surpreso se lesse algum estudo dizendo que tal prostituta corrupta é a igreja evangélica, corrompida pelo dinheiro, pela sede de poder, por todo tipo de prática absurda contra a Palavra. O objetivo aqui não é fazer uma exegese do texto de Apocalípse, até porque não creio seja específico para Igreja Católica ou Evangélica, ou seja lá qual for. Defendo que Cristo não é de uma denominação, e nem fundou qualquer religião. Cristo veio para salvar homens pecadores em rebelião contra Deus. Alguns amigos já me disseram que Cristo era mais amoroso em Sua Palavras do que os pregadores que gosto de ouvir. Óbvio que era, ninguém pode ser mais amoroso que Ele, mas ninguém também pode ser tão duro contra o pecado quanto Ele é, foi, e sempre será. Pois Ele é quem foi moído por causa do meu pecado, e do seu também. Não poupou dureza e firmeza nas palavras dirigidas às lideranças religiosas de Israel. Foi amoroso sim, com os pecadores arrependidos (que foram conduzido ao arrependimento por Ele mesmo), mas foi muito duro com os duros de coração. Tenho consciência de que muitos quando lerem este texto pensarão que me acho mais que alguém, ou que seja mais santo que outros. Siceramente espero que quem ler este texto consiga enxergar que minha crítica e reclamação é exatamente pelo fato de que sei o quanto sou falho, o quanto sou pecador, e o quanto necessito de alimento vindo dos púlpitos. Exatamente por isso reclamo. Preciso ser confrontado em meus pecados. Preciso ouvir de homens comprometidos com a Verdade da Boa Nova de Cristo, pra me incitar a caminhar em uma vida digna de ser chamado de seguidor de Cristo. Sou falho, pecador e fraco, extremamente necessitado da Graça do Senhor Jesus Cristo, que não somente me salvou, mas que me conduz caminhando aos trancos e barrancos, contudo firme nas pisaduras da fé.

Oro ao Senhor que tenha misericórdia de mim se eu estiver equivocado nas coisas que escrevo. Não sou o dono da verdade, mas me aplico a compreender a Verdade, não para impô-la aos outros, mas para aplicar em minha vida. Encerro este texto com a oração de São Francisco de Assis, que sinceramente tento fazer dela a minha oração.

“Senhor, fazei-me instrumento de Vossa paz. Onde houver ódio que eu leve o amor. Onde houver ofensa que eu leve o perdão. Onde houver discórdia que eu leve a união. Onde houver dúvida que eu leve a fé. Onde houver erro que eu leve a verdade. Onde houver desespero que eu leve a esperança. Onde houver tristeza que eu leve alegria. Onde houver trevas que eu leve a luz.

Ó, Mestre! Fazei que eu procure mais consolar, que ser consolado. Compreender que ser compreendido. Amar que ser amado. Pois é dando que se recebe. É perdoando que se é perdoado, e é morrendo que se vive para a vida eterna.”

Que a Graça do Senhor Jesus Cristo seja sobre todos nós!