segunda-feira, 2 de maio de 2011

Contra festa do Centenário da Assembléia de Deus, Pastor Silas Malafaia ataca CGADB: “CGADB é cachaça de Pastor”

Durante o programa exibido no dia de hoje, 30, o pastor Silas Malafaia convidou a todos os cidadãos brasileiros a entenderem melhor o que está escrito no texto do Projeto de Lei 122/2006 que foi desarquivado pela Senadora Marta Suplicy.

O texto redigido com a intenção de acabar com crimes homofóbicos acaba condenando todo tipo de crítica voltada ao grupo de homossexuais, bissexuais e transgênicos.O pastor comparou então o texto da PL 122 com Constituição Federal em principal o artigo 5º que garante a manifestação de expressão, concluindo que o texto da PL afeta diretamente o que a CF garante ao cidadão, sendo então uma lei anticonstitucional.


Malafaia deixou claro que tem o direito de criticar a homoafetividade, mas que é completamente contra ao crime de homofobia e que vai continuar alertando a população sobre os exageros da referida lei.

O líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo também deixou claro que não ficou satisfeito com a emenda que a senadora do PT fez ao projeto permitindo que os pastores e demais líderes religiosos apenas fale sobre o homossexualismo dentro de seus templos.

Para protestar e impedir que esse projeto seja aprovado o pastor Silas Malafaia está organizando uma passeata em Brasília no dia 29 de junho e convida todos os que defendem os direitos da família a estarem com ele neste dia.

Centenário e disputas políticas nas Assembleias de Deus
A segunda parte de seu programa foi voltada a denuncia contra a diretoria da Convenção Geral das Assembléias de Deus que por questões de rixas políticas não mencionam a Igreja Mãe das ADs, a Assembleia de Deus de Belém, nos folhetos de comemoração do Centenário.

“A única igreja que está completando 100 anos é a Assembleia de Deus de Belém”, lembra Silas Malafaia que diz não estar defendendo o pastor Samuel Câmara que é quem está sendo “desprezado” pela CGADB por ter disputado as eleições para presidência da convenção juntamente com o pastor José Wellington.

Malafaia diz que a igreja tem que ser prioridade, acima da convenção que é só uma organização política. “Vocês dizem que amam a Assembleia de Deus, mas na verdade vocês só amam os seus cargos”.

O pastor denuncia também que a CGADB fará comemorações da cidade de Belém uma semana antes do que planeja a igreja local para que os líderes presentes não voltem na semana do dia 16 para participar das festividades coordenadas por Samuel Câmara.

Ele também faz coro com as declarações já dadas pelo pastor Câmara que diz que toda convenção regional que não apoia a CG acaba rachando, sem o apoio da diretoria.

“A nossa denominação está cheia de gerentes”, diz Malafaia que traça perfis diferentes entre líderes e gerentes, citandos inclusive, os nomes de antigos presidentes da convenção geral que agiram como líderes, prezando o bem comum das igrejas e não o lado pessoal.

Durante o programa exibido dia 30/04, o pastor Silas Malafaia convidou a todos os cidadãos brasileiros a entenderem melhor o que está escrito no texto do Projeto de Lei 122/2006 que foi desarquivado pela Senadora Marta Suplicy.

Segundo o pastor, o texto redigido com a intenção de acabar com crimes homofóbicos acaba condenando todo tipo de crítica voltada ao grupo de homossexuais, bissexuais e transgênicos.

O pastor comparou então o texto da PLC 122 com Constituição Federal em principal o artigo 5º que garante a manifestação de expressão, concluindo que o texto da PLC afeta diretamente o que a CF garante ao cidadão, sendo então uma lei anticonstitucional.

Malafaia deixou claro que tem o direito de criticar a homoafetividade, mas que é completamente contra ao crime de homofobia e que vai continuar alertando a população sobre os exageros da referida lei.


Para protestar e impedir que esse projeto seja aprovado o pastor Silas Malafaia está organizando uma passeata em Brasília no dia 29 de junho e convida todos os que defendem os direitos da família a estarem com ele neste dia

morgan freeman


Apresentador da série “Grandes mistérios do universo”, o ator diz que as verdades da ciência são questionadas e reescritas o tempo todo
Publicado originalmente por Marcelo Bernardes, na Época
Em 2005, a clickstar tornou-se a primeira companhia a oferecer a distribuição legal de filmes pela Internet. Apesar do modelo de sucesso atual das empresas Netflix e Apple, a Clickstar viria a falir três anos mais tarde. Um de seus sócios, o ator Morgan Freeman, havia desenvolvido também vários documentários sobre o cosmos, a serem distribuídos em sua nova empreitada. O canal a cabo Discovery Channel resgatou uma das ideias e lança, no dia 2 de maio, às 21h, a série Grandes mistérios do universo com Morgan Freeman. Nela, o ator explica as novas teorias de acadêmicos nos campos da astrobiologia e da física quântica, além de narrar a perene discussão de como o universo foi criado – e se existiu um criador. Na suíte de um hotel com vista para o Central Park, em Nova York, Freeman disse a ÉPOCA que “ainda não estamos perto de um pleno entendimento” dos mistérios do universo.
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ÉPOCA – Quando o senhor começou a gostar de física e astronomia?
Morgan Freeman – Em meados da década de 50. Na escola, eu não era bom aluno de ciência. Mas, ao cursar o ginasial em Nashville, física era uma das disciplinas que mais me intrigavam, porque sempre gostei de questionar teorias. Até hoje gosto de entrar em discussões científicas. Não existem respostas para várias das perguntas. Só possibilidades.
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ÉPOCA – O senhor já tentou obter respostas sobre a criação do universo via religião?
Freeman – Não. Comecei a formar opinião sobre religião aos 13 anos. Nos dez anos que se seguiram, li a Bíblia e os livros de grandes filósofos. E cheguei a uma conclusão.
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ÉPOCA – Que conclusão?
Freeman – Que teria de olhar mais para o lado científico das coisas. A única filosofia que achei que podia ser adaptada à minha vida foi o budismo, pois estamos falando sobre a vida como parte e extensão da morte e, vice-versa, e não sobre criadores. Não aceito religiões que prometem o paraíso após a morte.
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ÉPOCA – A religião tem gerado mais debates acalorados que a ciência.
Freeman – Marx disse: “A religião é o ópio do povo”. A população do planeta está crescendo e, para controlá-la, você precisa da mensagem assustadora das religiões para que os seres humanos creiam nelas. Ah, a fúria de Deus! (risos)
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ÉPOCA – Qual foi a descoberta científica que mais o impressionou?
Freeman – Não foi uma descoberta, mas sim o fato de que a gente não sabe do que está falando. Três décadas atrás, mapeamos o universo, sabíamos até o peso dele. Isso até o telescópio Hubble, que nos levou a dizer: “Ainda não estamos perto de um pleno entendimento”. Por anos acreditamos na teoria de Einstein sobre a velocidade da luz. Hoje, desconfiamos que a luz trafega com mais rapidez. As verdades da ciência são questionadas e reescritas o tempo todo.
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ÉPOCA –Qual é sua opinião sobre outras formas de vida no universo?
Freeman – Se você olhar o sistema solar, verá que somos um pequeno, microscópico pontinho dentro do universo. Aceito o fato de que existem seres alienígenas, embora eles não nos visitem nem sejam verdes.

O evangelho segundo um ex-crente


E lá pelo seu 6200º dia, Fábio Marton viu que Deus não era bom. “Faça-se o f***-se”, pensou, e o f**** foi tacado. Ele chamou isso de Ímpio, seu livro debute e “o primeiro pró-ateu brasileiro”, lançado na última terça-feira pela editora LeYa. Trata-se de um antitestemunho de 221 páginas sobre os mais ou menos dez anos que passou frequentando algumas igrejas e nenhuma orgia, como pregador-mirim e prego-master, enxergando todo um nexo e sem nada de. Exato.

C omo todo fidelíssimo crente, enfim, hoje porém um ex. O porquê ele revelou em um questionamento. Único mandamento foi não spoilar [do anglo-saxão spoiler, "não estragar a surpresa"], então sobre o exorcismo da mãe, tragédia, incesto e uma ressurreição nas proximidades do viaduto dos Autonomistas, em Osasco — tudo no livro –, falou pouco ou nada. O escrito é a profecia.
Vice: Você virou as costas pra Deus, então.
Fábio Marton: Sim.

Por quê?
Basicamente, é o seguinte: eu sou neto de um pastor da Assembleia de Deus, então a família inteira era crente pentecostal do tipo “sai capeta!”, milagres e tal. Daí já queria entrar porque, sei lá, eu admirava ele quando criança. Virei ateu com 17 anos de idade. Foi por conta própria, não teve nenhum mentor pra me guiar nisso. Eu simplesmente falei: “Ah, não acredito”. Mas também não vou dar um spoiler do que exatamente aconteceu, porque é uma coisa gradual que vai acontecendo ao longo do livro. Enfim, tive muitas experiências bizarras por ser evangélico: falei em línguas estranhas, o que na época achei ser um milagre. Também achei que tinha ganhado um dente de ouro de Jesus, subi no telhado pra ver o mundo acabar… Mas tem uma história por si, pra quem não tá interessado em religião. Eu era nerd pra caramba, vivia sozinho, de repente tudo ficou uma desgraceira… Então acho que tem mais coisas que simplesmente religião, uma coisa de desenvolvimento mesmo.

Como foi essa libertação?
No começo foi maravilhoso. As coisas começaram a dar certo, porque antes eu achava que tudo ia cair do céu. Foi muito alívio. Na verdade, eu tive umas recaídas, de ficar p da vida, xingar Deus… Mas agora não faz parte da minha vida, ficou esquecido já tem quase 16 anos. Mas ainda falo coisas tipo “pelo amor de Deus”, “Ai, Jesus!”. Tô nem aí. Ah, teve um negócio com uma prima também, mas isso foi depois, quando me livrei de Jesus.


Você entrou com dez anos, né?
Dez anos não na prima, na igreja. [risos] Na verdade acho que foi mais ou menos com oito, porque minha mãe era católica e meu pai estava afastado, aí quando eu tinha uns oito anos ele resolveu voltar. Só que achou um pastor muito louco, que fabricava munição pra revólver e tinha um stand de tiro. Isso foi em Osasco. Como falei na capa, eu nasci em Osasco, mas não tenho culpa disso. [risos] Metade da história se passa em Osasco e metade em Curitiba.

Mas teve alguma mágoa envolvida nesse abandono.
Não foi só isso, entende? É todo um processo de contradições, de pensar as coisas… Passei a adolescência super sozinho, tive tempo pra caramba pra pensar, então é toda uma sequência de coisas que levou a isso. Tem uma carga emocional sim, mas não foi simplesmente uma coisa impulsiva. Foram várias coisas que via que não estavam certas, que não estavam legais… Coisas que deram pra caber no livro, afinal. Mas foi um processo lento. Por que não virei ateu quando aconteceu a tragédia que está no livro? Porque não tava pronto pra isso. Foi um baita baque, uma grande desgraça, mas eu não tinha a concepção filosófica pra isso. É uma coisa filosófica virar ateu, não tem como virar ateu sem filosofia. No máximo você vira herege, sabe, enchendo o saco dos outros e ouvindo Marilyn Manson. É uma formação complexa, leva tempo.

E sobre a língua dos anjos, que é como chamam essas tais línguas estranhas…
Tem duas coisas. Primeiro, a Bíblia não menciona língua dos anjos porcaria nenhuma. Quando aparece Pentecostes, e é por isso que as igrejas são pentecostais, eles falavam línguas das pessoas, e as pessoas que eram estrangeiras reconheciam essas línguas. Isso é uma coisa. Outra coisa é que um estudioso americano, não lembro o nome dele agora, mas tá no livro, pesquisou línguas estranhas e descobriu que cada país do mundo, em cada região, fala uma língua estranha diferente. E ela sempre parece com a língua que as pessoas falam localmente, com os mesmos fonemas. Por exemplo: no japonês não existem várias letras, como o “V”, então você nunca vai ver um crente lá do Japão falando a letra “V”. A língua sempre se parece com a língua local, então existem várias línguas estranhas no mundo, cada país fala de um jeito. Ele conseguiu provar isso. A língua que eu falava, por exemplo, era uma que se falava nos anos 80 em São Paulo.

Pelo que eu vejo os pastores falando hoje, é diferente. Então eles já começaram a falar outra língua estranha. É um bláblábá de outras pessoas que você fala igual. E se você for reconhecido como um crente dentre eles e começar a falar, eles vão achar isso lindo — vão achar que você foi batizado pelo Espírito Santo, entendeu? Você também vai achar. Mas não tem nenhum mistério nisso.

Liberdade religiosa está ameaçada no Brasil

Antropóloga Débora Diniz afirma que o Estado está sendo questionado na Justiça por tentar privilegiar o ensino católico nas escolas públicas e que livros didáticos associam os ateus aos nazistas
O trabalho da antropóloga e documentarista carioca Debora Diniz tem si­do amplamente reconhecido mundo afora. Aos 41 anos, ela já recebeu 78 prêmios por sua atua­ção como pesquisadora e cineasta. Professora da Universidade de Brasília, Debora é autora de oito livros. O último deles – “Laicidade e En­sino Religioso no Brasil” – trata de uma discussão que está emergindo no País e deverá ser motivo de debates acalorados no Supremo Tribunal Federal. “Além de a lei do Rio de Janeiro sobre o ensino religioso nas escolas públicas estar sendo contestada no Supremo, há uma ação da Procuradoria-Geral da República contra a concordata Brasil-Vaticano, assinada pelo presidente Lula em 2008”, lembra Debora. “Um artigo da concordata prevê que o ensino religioso no País seja, necessariamente, católico e confessional. Isso é inconstitucional.”

ISTOÉ -
O ensino religioso nas escolas públicas, num Estado laico como o Brasil, é legítimo?

DEBORA DINIZ -
Sim e não. Sim porque está previsto pela Constituição. E não quando se trata da coerência com o pacto político. Chamo de coerência a harmonia com os outros princípios constitucionais: da liberdade e do pluralismo religiosos e da separação entre o Estado e as igrejas. Falsamente, se pressupõe que religião seria um conteúdo necessário para a formação da cidadania.

ISTOÉ -
O pluralismo religioso é respeitado nas escolas públicas?

DEBORA DINIZ -
Não. A Lei de Diretrizes e Bases delega aos Estados o poder sobre a definição dos conteúdos e quem são os professores habilitados. Isso não acontece com nenhuma outra matriz disciplinar no País. A LDB diz que o ensino religioso não pode ser proselitista. Apesar disso, legislações de vários Estados – como a do Rio de Janeiro – afirmam que tem de ser confessional. Determinam que seja católico, evangélico.

ISTOÉ -
As escolas viraram igrejas?

DEBORA DINIZ -
As aulas de ensino religioso, obrigatórias nas escolas públicas, se transformaram num espaço permeável ao proselitismo. Não é possível a oferta do ensino religioso confessional sem ser proselitista. Se formos para o sentido dicionarizado da palavra proselitismo, é professar um ato de fé. É a catequização. O proselitismo é um direito das reli­giões. Mas isso pode ocorrer na escola pública? A LDB diz que não.

ISTOÉ -
É possível haver ensino religioso sem ser proselitista?
DEBORA DINIZ -
É. A resposta de São Paulo foi defini-lo como a história, a filosofia e a sociologia das religiões.

ISTOÉ -
São Paulo seria o melhor exemplo de ensino religioso no País?

DEBORA DINIZ -
No que diz respeito ao decreto estadual, segundo o qual o ensino não deve ser confessional, sim. Mas se é o melhor exemplo na sala de aula, não temos pesquisas no Brasil para afirmar isso. A LDB diz que a matrícula é facultativa. Então, também devemos perguntar: o que a criança faz quando não está na aula de religião?

ISTOÉ -
O ensino religioso, da forma como está configurado, é uma ameaça à liberdade religiosa?

DEBORA DINIZ -
É. Quanto mais confessional for a regulamentação dos Estados, quanto mais os concursos públicos forem como o do Rio – em que o indivíduo tem de apresentar um atestado da comunidade religiosa a que pertence e, caso mude de religião, perde o concurso –, maior é a ameaça. A liberdade religiosa está ameaçada no País e a justiça religiosa também.


ISTOÉ -
Há uma tentativa de privilegiar uma ou outra religião?

DEBORA DINIZ -
Quase todos os Estados se apropriam do que aconteceu no Rio, nominando as religiões dos professores. No Ceará, por exemplo, o professor tem de ter formação em escolas teológicas. Mas religiões afro-brasileiras não têm a composição de uma teologia formal. Essa exigência privilegia os católicos e os protestantes.

ISTOÉ -
Por que o MEC não define o conteúdo do ensino religioso?

DEBORA DINIZ -
Há uma falsa compreensão de que o fenômeno religioso é um saber para iniciados, e não para especialistas laicos. Também há um equívoco sobre o que define o pacto político num Estado laico. O fenômeno religioso não é anterior ao fato político. Religião não pode ter um status que não se subordine ao acordo constitucional e legislativo. Isso é verdade em algumas coisas, tanto que o discurso do ódio não é autorizado. O debate sobre a criminalização da homofobia causa tanto incômodo às comunidades religiosas porque resultará em restrição de liberdade de expressão. Não se poderá dizer que ser gay é grave perversão, como algumas fazem atualmente.

ISTOÉ -
Os livros didáticos dizem…

DEBORA DINIZ -
Dizem porque há essa lacuna de regulação e de fiscalização. Há uma subordinação do nosso pacto político ao fato religioso. O que é um equívoco. Também há uma falsa presunção de que o saber religioso não possa ser revisado. O MEC tem um painel em que todas as controvérsias científicas são avaliadas por uma equipe que diz o que pode e o que não pode entrar nos livros didáticos. A despeito de pequenas comunidades no campo da biologia dizerem que criacionismo é uma teoria legítima sobre a origem do mundo, o filtro do MEC diz que criacionismo não é ciência. Por que, então, o MEC não define o que pode entrar nos livros de ensino religioso e os parâmetros curriculares?

ISTOÉ -
O que os livros didáticos de religião pregam?

DEBORA DINIZ -
Avaliamos 25 livros didáticos de editoras religiosas e das que têm os maiores números de obras aprovadas pelo MEC para outras disciplinas. Expressões e valores cristãos estão presentes em 65% deles. Expressões da diversidade cultural e religiosa brasileira, como religiões indígenas ou afro-brasileiras, não alcançam 5%. Muitas tratam questões como a homofobia e a discriminação contra crianças deficientes de uma maneira que, se fossem submetidas ao crivo do MEC, seriam reprovadas. A retórica sobre os deficientes é a pior possível. A representação simbólica é de quem é curado, alguém que é objeto da piedade, que deixa de ser leproso e de ser cego. É a do cadeirante dizendo obrigado, num lugar de subalternidade.

ISTOÉ -
A submissão ao sagrado é estimulada?

DEBORA DINIZ -
É uma submissão ao sagrado, à confessionalidade. Mas a confessionalidade não se confunde com o sagrado. O sentido do sagrado pode ser explicado. No caso do “Alcorão”, é possível explicar que a escrita tem relação com a história do islamismo. Não precisamos de livros que violem o sagrado, que digam que Maria não era virgem. Mas eles não precisam se submeter à confessionalidade, dizer que há só uma verdade.

ISTOÉ -
Há um estímulo ao preconceito e à intolerância nos livros?

DEBORA DINIZ -
Sem dúvida. Há a expressão da intolerância à diversidade – das pessoas com deficiência, da diversidade sexual e religiosa, das minorias étnicas. Há, também, uma certa ironia com as religiões neopentecostais.

ISTOÉ -
A ideia da supremacia moral dos que têm religião é defendida?

DEBORA DINIZ -
É. Há equívocos históricos e filosóficos, como a associação de ­Nie­tz­s­che ao nazismo. As pessoas sem Deus são representadas como uma ameaça à própria ideia do humanismo. É muito grave a representação dos ateus. Isso pode gerar desconforto entre as crianças cujas famílias não professem nenhuma religião. Já que, nos livros, elas estão representadas como aquelas que mataram Deus e associadas simbolicamente a coisas terríveis, como o nazismo.

ISTOÉ -
As aulas facultativas podem se tornar uma armadilha?

DEBORA DINIZ -
Sem dúvida. A criança terá de explicar suas crenças, o que deveria ser matéria de ética privada. Pior: ao sair da aula com um livro como esse, as crianças talvez tenham de explicar por que não têm Deus.

ISTOÉ -
Não há reflexões históricas sobre o significado das religiões?

DEBORA DINIZ -
Nenhuma. Há uma enorme dificuldade de nominar as comunidades indígenas como possível religião. Elas possuem tradições e práticas religiosas ou magia. No caso das afro-brasileiras, também se fala em tradição.

ISTOÉ -
O que levou o Estado a proteger o ensino religioso na Constituição?

DEBORA DINIZ -
Foi uma concessão a comunidades religiosas numa disputa sobre o lugar de Deus e da religiosidade na Constituição. A religião foi mantida no que caracterizaria a vida boa e a formação da cidadania. Isso é um equívoco. A religião pode ser protegida pelo Estado, mas não no espaço de promoção da cidadania que é a escola.

ISTOÉ -
O ensino religioso está ganhando ou perdendo espaço no mundo?

DEBORA DINIZ -
Essa é uma controvérsia permanente. Nos Estados Unidos, um país bastante religioso, não está na escola pública. Na França, o país mais laico do mundo, também não. Exceto na região da Alsácia-Mosele. Na Bélgica e no Reino Unido está. Esses países hoje enfrentam com muita delicadeza a islamização de suas sociedades. Na Alemanha, grupos islâmicos já começaram a exigir o ensino de sua religião nas escolas públicas.

ISTOÉ -
Mas na França também há o outro lado, de proibirem vestimentas…

DEBORA DINIZ -
Esse é o paradoxo que a França enfrenta neste momento, sobre como respeitar o modelo da neutralidade. A lei do país proíbe símbolos religiosos ostensivos nas escolas públicas – cruz grande, solidéu, véu. O que o outro lado vai dizer? Que isso viola um princípio fundamental, que é a expressão das crenças individuais estar no próprio corpo.

ISTOÉ -
Quais são os desafios do ensino religioso no Brasil?

DEBORA DINIZ -
São gigantescos e podem ser divididos em três esferas. Uma é a esfera legal. O ensino religioso está sob contestação nos foros formais do Estado: no Supremo, no MEC e no Ministério Público Federal. Além de a lei do Rio de Janeiro estar sendo contestada no Supremo, há uma ação da Procuradoria-Geral da República contra a concordata Brasil-Vaticano, assinada pelo presidente Lula em 2008.

ISTOÉ -
E do que trata esta ação?

DEBORA DINIZ -
Um artigo da concordata prevê que o ensino religioso na escola pública seja, necessariamente, católico e confessional. Isso é inconstitucional. Estamos falando da estrutura da democracia. Segundo o ministro Celso de Mello, em toda a história do Supremo, só tínhamos tido uma ação que tocava na questão da laicidade do Estado. Isso foi nos anos 40. Agora, temos pelo menos duas. A segunda esfera é como o ensino religioso pode ou não pode ser implementado. O MEC precisa definir quem serão os professores, como serão habilitados e quais conteúdos serão ensinados. A terceira esfera é a sala de aula, a garantia de que vai ser um ensino facultativo e de que o proselitismo religioso será proibido.