quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O internauta pergunta: crescimento no setor evangélico; bom ou ruim?


Leonardo:
“Gostaria de ler um comentário seu acerca da matéria publicada na revista Época, na qual apresentam a estimativa de que em 2020, metade da população brasileira será evangélica”.
J. Júnior, Três Corações – Brasil
Prezado irmão,
A matéria de Nelito Fernandes na revista Época, baseada em informações obtidas por meio da SEPAL, está baseada na premissa de que as igrejas evangélicas continuarão crescerão nos próximos vinte anos na mesma proporção que há 40 anos atrás. Da década de 60 até os dias atuais, o número de evangélicos no Brasil cresceu de 4 para 24 por cento, e a tendência é continuar crescendo. Se este crescimento se dará na mesma proporção que nas últimas 5 décadas, não sabemos, mas tudo indica que a igreja evangélica ganhará muitos novos adeptos. No entanto, o mais preocupante é o modo como essa igreja está crescendo: Se uma criança que cresce em tamanho, mas não amadurece mentalmente, dizemos que ela é doente. Do mesmo modo uma igreja que cresce em número, mas que não cresce em conhecimento, amor, zelo missionário, mordomia dos dons e ortopraxia, só pode estar enferma.

Particularmente, não fiquei comovido ou sobremodo contente com o prognóstico da revista Época, pelos seguintes motivos:

1. Apesar do crescimento notório, a igreja evangélica tem crescido às custas da importação de práticas pagãs: através do sal grosso e arruda do espiritismo, da água benta e do comércio de ícones do catolicismo, dos talismãs do xamanismo, da incorporação de práticas liturgicas oriundas da macumba africana (popularmente conhecidas como reteté), da teologia simonista importada dos E.U.A., da judaização da igreja que traz elementos “alienígenas” para o culto cristão, tais como Menoráh, réplicas da Arca, Cajado de Moisés, enfim, um crescimento doente, nocivo, perigoso, letal.
2. Outra razão porque não consigo me alegrar com a matéria da Época, são os crescentes escândalos e a frouxidão moral que impera em nosso meio. Podemos ver isso no comentário da antropóloga Christina Vital, na própria revista. Ela afirma que “os evangélicos não vão apenas mudar a sociedade brasileira, eles mudarão com ela”. Infelizmente isso já está acontecendo. O que a gente mais vê hoje é esta simbiose entre igreja e paganismo, uma adaptação dos valores do Reino às demandas do mercado de consumo religioso.
Ainda acerca do atual momento evangélico, Christina diz: “O movimento adapta-se aos costumes, o que deverá continuar nos próximos anos. Hoje temos igrejas evangélicas que aceitam gays”. Esta vergonhosa realidade também é percebida por Ari Pedro Oro, ao lembrar que “a religião evangélica foi abrasileirada e já não tem um foco tão grande de moralismo”.
3. Também não me iludo com o prognóstico da revista, porque sei que apesar do vultuoso crescimento dos evangélicos, esse crescimento se dá justamente naqueles setores mais doentes do protestantismo. Hoje em dia, as igrejas que mais crescem são aquelas que conhecemos como neopentecostais, igrejas que, salvo raríssimas exceções, são um foco de proliferação de heresias como maldição hereditária e demonização das ações humanas (não é o homem que decide ser homossexual, é o espírito do homossexualismo; não é o ladrão que rouba, e sim o espírito do latrocínio; não é o marido que bate na mulher, ele é vítima do espírito de violência). Fenômenos como Waldemiro Santiago e as toalhas ungidas devem aumentar nos próximos anos. Enquanto isso, as denominações históricas vão perder espaço na mesma proporção, pelo fato de não atenderem às demandas do mercado.
Eu estou absolutamente convicto de que, no ritmo que vamos, se Jesus tardar em buscar a igreja, teremos uma igreja evangélica muito grande em 2020. No entanto, me pergunto qual será a cara dessa igreja evangélica?
Será uma igreja que prega o evangelho em sua essência, ou deixará o evangelho de lado, substituindo-o pela famosa barganha com Deus, onde a misericordia divina é medida pela minha capacidade de dizimar e ofertar? Será o sal da terra e a luz do mundo, que se destaca e diferencia daqueles que a cercam, ou absorverá toda essa cultura mundana, tornando-se iguais àqueles a quem pregamos? Será conhecida por causa daqueles poucos, mas fiéis servos que não se deixam corromper, ou pelas figuras midiáticas como Malafaias, Felicianos, Waldemiros, Macedos, Hernandes e Soares da vida?
Não desejo com isso minar a fé e nem roubar a alegria de ninguém. Sei que muitos receberam essa estimativa como boa nova dos céus. Porém, não podemos deixar de ser realistas e reconhecer aquilo que realmente está em jogo. Todo crescimento é bom, desde que seja acompanhado de maturidade, inteligência, saúde. Desejo muito o crescimento da igreja, tanto que, tendo igreja para pastorear no Brasil, optei pelo campo missionário. Contudo, não posso ser hipócrita e fingir que está tudo bem. O que temos visto na igreja contemporânea de modo geral é inchaço, e não crescimento; é adesão, e não conversão. Crentes são substituidos por clientes, o púlpito cedeu lugar ao balcão de comércio, os dízimos foram transformados em dividendos e a bíblia passou a ser um mero adorno, um talismã mais na coleção de amuletos cristãos. Creio que tal crescimento jamais será bem visto aos olhos do Senhor.

Um abraço, do seu irmão que ora por um crescimento não apenas denominacional e numérico, mas também moral e espiritual;

Leonardo.

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