sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Os assassinos da Graça



peso_pecado
Por Antognoni Misael
Queria falar um pouco sobre a Graça de Deus e a nossa infeliz tradição legalista religiosa.
A primeira coisa que venho afirmar com plena convicção é que os nossos compartimentos relacionados a tradição, fé e graça parecem ainda estarem confusos, obsoletos, e necessitam sim, entrar na pauta de uma reformalização urgente.
Por que será que é bem mais fácil demarcar cercas na vida do cristão do que ensiná-lo a liberdade em Cristo Jesus? “Foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Permaneceis, pois, firmes, e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão”. (Gálatas 5.1)
Enquanto a liberdade de Cristo está disponível a todos que desejam recebê-la, há muitos agentes do diabo escondendo as cartas de alforrias para seus fieis e os submetendo a um novo jugo de escravidão.
A tradição pesa em nosso desfavor. Vejam só:
- quem nunca ouviu há décadas atrás que televisão era a uma janela do inferno dentro de casa; que mulher de brinco e calça jeans era uma espécie de Jezabel?
- que, crente que usasse bermuda poderia ficar caso Cristo voltasse?
- que jogar futebol era uma atividade profana e que os anjos poderiam ver aquilo e tentar fazer o mesmo no céu?
- que ouvir canção secular era uma porta de entrada para o capeta?
- que ir a praia e curtir o verão era uma prática carnal?
- que tomar uma taça de vinho ou um shop gelado com os amigos era um costume dos escarnecedores?
- que tocar rock no louvor era um culto ao diabo?
- que galinha pintadinha é coisa do capiroto?
E por aí vai tantas e tantas restrições…
Onde estão estes demarcadores hoje? Será se não estão fabricando novas listas de proibições?
Note que por muito tempo se pregou (e infelizmente ainda se prega) o Evangelho de condenação, e não das Boas Novas; se ensinou mais o que não podemos fazer do que o que pode ser salutar e viável para o bom desenvolvimento da vida do cristão, principalmente em seu aspecto humano, social e cultural. Neste sentido, diga-me se não é mais confortável reconstruir regras e demonizar coisas, do que descobrir os panos da religião e proclamar o Evangelho da Cruz?
É bárbaro notar como Lei retorna em formatos modernos!
O perigo de toda essa inversão é que ao invés de se estar instalando o Reino de Deus na terra, esteja se fincando mais uma bandeira religiosa em solo azul anil.
Precisamos repensar muita coisa e a partir dos nossos cenários locais (igreja e comunidades), proclamarmos a Graça, a Cruz, e mais do que isso, lutarmos pela verdadeira liberdade conquistada em Cristo.
Chega de listas! Chega de Lei disfarçada de novas recomendações, quase sempre impossíveis de serem cumpridas em sua totalidade! Chega de líderes idiotas e crentes idiotizados!
Não estou abrindo a porta para a libertinagem cristã. Estou defendendo que é muito mais importante as orientações para o bom uso da  ’chave da vida’ do que a construção da porta para o legalismo. Há riscos de que haja más interpretações? Sim claro! Sempre haverá riscos. Mas, não tenhamos dúvida, bem melhor são as quedas no andaime da Graça do que a construção do prédio da religiosidade.
“Que diremos pois? Permaneceremos no pecado, para que a graça abunde? De modo nenhum. Nós, que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele?” Rm 6:1-2
escravatura-angolaEm sua obra “O Despertar da Graça”, o autor Charles R. Swindoll relata a dramática luta pela liberdade dos negros em solo norte-americano no século XIX, o pior derramamento de sangue ocorrido naquela nação. Em um dos capítulos Swindoll compara a luta pela liberdade nacional com a luta pela liberdade de viver a Graça de Deus, libertos do pecado e da culpa pelo pecado. Naquele enredo, o mais triste é que, findada a guerra e a liberdade proclamada, muitos dos donos de escravos inescrupulosamente não repassaram a alforria aos seus servos e os mantiveram por muitos anos sob suas algemas. Comparar esses donos de escravos com alguns ditos crentes de hoje não é nada desconexo! Estes odeiam a Graça de Deus e amam a Lei! Geralmente são aqueles crentes fissurados na teoria que o filósofo Foucaul bem explana -“vigiar e punir” –  em prol de suas auto glorificações.
Certa vez, S. Lewis Johnson escreveu um artigo intitulado “A paralisia do legalismo”, neste texto ele põe o dedo na ferida:
“Um dos problemas mais sérios que atinge a igreja ortodoxa cristã hoje é a questão do legalismo. Um dos mais sérios problemas que atingia a igreja nos dias de Paulo era o problema do legalismo. Em ambos os momentos ele é o mesmo. O legalismo arranca do crente a alegria do Senhor e, justamente com a alegria do Senhor, sai também seu poder para uma adoração vital e um culto vibrante. Nada é deixado de lado, a não ser uma declaração limitada, sombria, melancólica e apática. A verdade é traída e o glorioso nome do Senhor torna-se sinônimo de um soturno desmancha-prazeres. O cristão debaixo da lei é uma horrível paródia do original.”
Fujamos dos assassinos da Graça. Eles são perigosíssimos.
“E isto por causa dos falsos irmãos que se intrometeram, e secretamente entraram a espiar a nossa liberdade, que temos em Cristo Jesus, para nos porem em servidão” Gl 2:4
Eles adoram expiar a vida alheia, saber sobre o que fazemos, por onde passamos, o que comemos, com quem andamos…
Aos que circunstancialmente vestem-se desta capa, tenhamos paciência, e com amor e brandura falemos sobre a mais bela carta de alforria escrita por Jesus Cristo naquela Cruz.

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