Por Charles Colson e Anne Morse
Quando
paramos de levar a sério as verdades históricas da igreja,
enfraquecemos nosso testemunho, geralmente com grandes consequências.
“Nós
caímos em um abismo no qual a reafirmação do óbvio é o primeiro dever
do homem inteligente”. Escritas em 1939, as palavras de George Orwell
parecem ser endereçadas aos líderes da igreja biblicamente iletrada de
hoje.
A
coisa mais óbvia a ser dita sobre o Cristianismo é que ele se apóia em
fatos históricos: a Criação, a Encarnação, e a Ressurreição. Desde que
nossas doutrinas sejam uma reivindicação da verdade, elas não podem
ser meros simbolismos. É importante lembrar a forma como celebramos a
Ressurreição, que geralmente é ofuscada pelo esplendor da Páscoa.
Para
mim, é evidente que a doutrina é importante. Há alguns anos, eu
visitei o Sri Lanka, logo depois de o bispo anglicano David Jenkins ter
rejeitado a doutrina da Ressurreição como uma “brincadeira mágica com
os ossos” (mais tarde foi revelado que ele havia citado um texto
erroneamente). O líder do nosso ministério, que me acompanha palas
prisões do país, disse que a notícia custou muitas conversões, porque
budistas e hindus usaram isso para convencer as pessoas de que o
Cristianismo é baseado em uma simples travessura.
Claramente,
quando nós paramos de levar a sério as verdades históricas da igreja,
nós enfraquecemos nosso testemunho, geralmente com grandes
consequências. Por exemplo, grupos de estudantes islâmicos fazem
proselitismo afirmando que os cristãos adoram três Deuses: Pai, Mãe, e
Filho. De onde eles tiraram essa ideia? Dos cristãos egípcios do
século VII, que abandonaram a Bíblia e abraçaram essa heresia.
Um estudo do Pew Forum on Religion and Public Life,
feito a alguns anos,revelou uma excessiva ignorância doutrinária entre
os cristãos americanos. 57% das pessoas acreditam que pessoas que
seguem outras religiões poderão usufruir a vida eterna. O resultado foi
tão inesperado que o fórum repetiu o estudo, perguntando questões mais
específicas. As respostas permaneceram inalteradas.
Surpreendentemente, cerca da metade disse que qualquer um, inclusive
ateus, irão para o céu. Céu para o ateu? Essa é a antiga heresia do
universalismo.
A
indiferença às verdades do evangelho é percebida em outras esferas
também, como entre as pessoas que é defendem os “fatos, e não a crença”,
e na infinita discussão sobre as novas formas de “entender” ou “fazer”
teologia. Alguns aderem à antigas heresias, que dizem que as doutrinas
devem ser extraídas de experiências íntimas, de sentimentos pessoais.
Isso é uma versão do Gnosticismo.
Há
aqueles que querem adaptar o Cristianismo a era pós-moderna, ou
desenvolver sua teologia publicamente com não-cristãos, ajudando a
formular o resultado. Sim, nós precisamos contextualizar a mensagem para
que as pessoas do nosso tempo e cultura entendam a verdade que nós
proclamamos. Mas isso é radicalmente diferente de mudar a verdade cristã
que os pais da igreja definiram em seus concílios.
Como
um repórter noticiou, mesmo quando os cristãos conhecem as doutrinas
verdadeiras, eles temem dizer a verdade com receio de ofender os
outros. Por quê eu deveria impor minha verdade aos outros? É um
pensamento que define muitos de nossos crentes.
É
por isso que J. I. Packer, no seu octogésimo aniversário, disse que o
grande desafio dos evangélicos é recatequizar nossas igrejas. Mais do
que nunca, os cristãos precisam ter a capacidade de falar corajosamente
sobre a esperança que eles escondem dentro de si.
É
claro que a fé pessoal é importante, mas não é suficiente. E sim, a
doutrina tem sido ensinada de forma seca e insatisfatória. Mas como
Dorothy Sayers notou, uma vez que nós entendemos o que as doutrinas
cristãs ensinam, “O dogma é o drama”.
A
determinação de restaurar a fé ortodoxa – a fé que “de uma vez por
todas foi entregue” (Jd 1.3) – nos leva a Reforma, de quem nós somos
herdeiros. Uma nova ênfase na doutrina ortodoxa poderia, também,
transformar a igreja e a cultura atual.
Há
alguns anos eu visitei Atenas e escalei uma rocha chamada Monte de
Marte. Eu fiquei no lugar onde eu imaginava que Paulo tinha se
confrontado no Areópago, o sábio homem no centro cultural do mundo.
Paulo desafiou os atenienses referindo-se à sua própria cultura e seus
falsos altares, e depois pregou o evangelho, proclamando que Deus havia
ressuscitado Jesus dentre os mortos.
É
a mesma mensagem que eu prego nas prisões hoje em dia. Eu penso que é
bem mais divertido permanecer em uma crença que dura dois mil anos do
que pular de uma para outra.
Poucas
pessoas aceitaram o convite que Paulo fez naquele dia para seguirem
Cristo. Mas bilhões seguiram Paulo desde aquela época porque Cristo
tem um poder inevitável. Ele tem o poder de impedir que Satanás
controle nossas almas e de transformar alegremente nossas vidas.
Orwell
estava certo: em uma crise, nós geralmente temos o dever de reafirmar o
óbvio. E a Páscoa é um bom momento para os cristãos reverem sua
confusão doutrinária, irmã das verdades óbvias do Cristianismo.
O maior desafio dos cristãos atuais é não reinventar o Cristianismo, mas descobrir seus ensinamentos mais importantes.
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