Por Isaltino Gomes Coelho Filho
Um dia desses vi uma pintura num veículo: “Foi Deus quem deu!”.
Entendi a mensagem que o proprietário queria transmitir. Ele reconhecia
que Deus lhe proporcionara uma bênção material. No caso, aquele carro.
Mais tarde pus-me a meditar no caso. Respeitosamente, não me soa o
reconhecimento correto. Na realidade, há mais de mundano que de
espiritual na frase. Ela não expressa apenas o reconhecimento de que
foi uma bênção, mas traz certo ufanismo. Afinal, conheço bem o movimento
evangélico de hoje e sei da ênfase que ele coloca em bens materiais
como sinal da aprovação divina. Quem é suficientemente bom aos olhos de
Deus recebe bênçãos materiais. A doutrina da graça tem sido varrida para
longe pelo neopentecostalismo. É um tal de “declarar”, “exigir seus
direitos”, “reivindicar” que se vê uma total ignorância do que seja
graça. Consequentemente, do que seja o evangelho. Quando alguém diz “Foi
Deus quem me deu” pode muito bem estar dizendo: “Viu? Fui um bom
menino, e Papai do Céu me deu de presente!”. Vejo tanto ufanismo com
bens materiais! Muitos evangélicos parecem mais ligados em Mamom, o
pseudo-deus das riquezas, que em Jesus Cristo.
O correto não é “Foi Deus quem deu!”. Porque se somos mesmo cristãos,
nada é nosso, e tudo é dele. As coisas que nos vêm às nossas mãos, na
realidade não são nossas, mas dele. Estão conosco para nosso uso, mas
prestaremos contas delas, porque não somos proprietários, mas servos e
mordomos (Lc 12.37 e 42) e despenseiros (1Pe 4.10). Alguns acham que são
donos e assim dão migalhas dos bens, do tempo, das emoções e dos afetos
para Deus. Amam os bens e dizem que Deus lhes deu.
Se você realmente é uma pessoa que entregou a vida (e não apenas o
louvor) a Jesus, nada do que você tem é seu, mas é dele. As pessoas se
lembram do Salmo 24.1 quando querem reivindicar coisas como “filhas do
Rei”. Se tudo é dele, somos dele e nossas coisas são dele.
Sua vida é dele? Então seu carro não foi presente dele, mas é dele.
Sua casa é dele. Seus filhos são dele. Sua carreira é dele. Se ainda não
entendeu isso, cante o hino 422 do Hinário Para o Culto Cristão: “Tudo o
que sou e o que vier a ser eu ofereço a Deus”. Em um ato de culto
ofereça a Deus o que é dele por direito. Que seja de fato.
Nada seu é seu. Tudo seu é dele. Reconheça isso e viva isso antes que
ele, insatisfeito com sua visão, dê a outro: “Tirai-lhe, pois, o
talento e dai-o ao que tem os dez talentos” (Mt 25.28). Lembra-se desta
história? Aconteceu quando o senhor chegou e chamou os servos à
prestação de contas (Mt 25.19). Demorou, mas veio. Você é apenas servo, e
não senhor. Quando ele vier, que não chame você de “servo inútil”.
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