Por Ricardo Mamedes
Em
outras oportunidades neste mesmo blog já escrevi a respeito da minha
mudança de posicionamento teológico com relação às doutrinas da graça,
especialmente no que se refere à eleição e predestinação.
Não
nego que outrora - há não tanto tempo - essa questão causava-me um
certo desconforto, não porque trouxesse comigo ideias substanciais para
refutar o calvinismo, mas exatamente pelo contrário: eu nada sabia a
respeito dessa teologia, a não ser aquela ideia preconcebida de que os
tais pregavam um Deus tirano que faz das suas criaturas robôs.
E
talvez por já ter trilhado esse mesmo caminho consiga compreender e
relevar tantos arminianos que assim pensam e se colocam em toda e
qualquer discussão com calvinistas. Eu diria que sou tolerante. Vou
além, acho que é necessário ser tolerante, uma vez que
não travamos uma guerra entre facções rivais. Somos irmãos - arminianos e
calvinistas - e não ouso imaginar a possibilidade de dizer que nós,
calvinistas, tenhamos a exclusividade da salvação. Não temos!
Ora,
como poderíamos estabelecer um pensamento tão arrogante a ponto de
determinar salvos e réprobos em razão do seu pensamento teológico,
baseado-nos em conjecturas, quando somente o Eterno e Insondável fará
essa separação através de critérios que somente a Ele pertencem? Quem
somos nós para palmilhar tais caminhos? Quem nos revelou o mistério?
Graças
ao Deus Triúno, que aprouve revelar-me a verdade sobre a predestinação,
eleição, soberania e responsabilidade humana, creio hoje em um Deus que
governa, sustenta e mantém toda a criação, determinando todas as ações
humanas. Fui resgatado de uma mentalidade humanista , cujo Deus
"complementa" as ações das suas criaturas. Porém, para chegar até aqui
percorri um longo caminho de "inércia", praticando crenças que hoje
reputo errôneas como a capacidade de escolher ter fé.
Sei,
por literal disposição bíblica que tanto graça como fé me foram
"presenteadas" gratuitamente pelo Maravilhoso Deus da minha salvação
(Efésios 2:8-9), que escolheu a mim antes que eu O escolhesse (João
15:16). Mérito não tenho qualquer, uma vez que, se assim fosse, a graça
já não seria graça, parafraseando o apóstolo Paulo (Romanos 11:6).
Creio
que Deus, na sua Soberania e Poder escolhe e elege os Seus em Jesus
Cristo. A verdade se me revelou assim. De posse desta revelação estou
autorizado a rejeitar os meus irmãos arminianos que pensam diferente?
Tenho que me recolher hermeticamente em um casulo de "pureza" evitando
misturar-me a eles, sob a assertiva radical e fundamentalista de que são
heréticos? A minha resposta é não! Embora não coadunando com tais
princípios, ainda que considere esse pensamento um desvio, destaco que é
apenas um "erro de percurso". Tal erro, a meu ver, não é suficiente
para afastar alguém da salvação , pois fosse assim (...) "a salvação , se é pela graça, já não é por obras, do contrário a graça já não seria graça "(sic).
Assim
como eu obtive a revelação a respeito das doutrinas que hoje não
somente cultivo como defendo, espero que tantos outros, assim como eu, a
obtenham, chegando à mesma verdade.
Pois
bem, como posso ser preconceituoso com os meus irmãos partindo do
princípio que eu mesmo demorei tanto tempo para aqui chegar? Como posso
cultivar essa visão exclusivista, se participo de uma igreja cujos
irmãos são na sua esmagadora maioria arminianos? Penso que a graça de
Deus será dadivosamente distribuída entre todos, ainda que pensem que
"estão indo por escolha própria".
Um
exemplo bem claro sobre isso é o que eu tenho vivido na minha própria
casa. A minha esposa é uma crente fiel, cristã fervorosa, crê na
soberania de Deus, na graça, mas faz confusão a respeito dessas
doutrinas , especialmente quando reflete sobre determinismo e
responsabilidade humana. Ela simplesmente não consegue conceber um "Deus
tirano" autor do mal e do pecado, ao mesmo tempo em que o quer
soberano.
Ontem mesmo, quando citei para a minha esposa Ezequiel 14:9-10, fui prontamente acusado de "procurar cabelos em ovos" , segundo a literalidade das suas palavras (rsrs). Diz o texto bíblico:
"Se
o profeta for enganado e falar alguma coisa, fui eu, o SENHOR, que
enganei esse profeta; estenderei a mão contra ele e o eliminarei do meio
do meu povo de Israel. Ambos levarão sobre si a sua iniquidade; a
iniquidade daquele que consulta será como a do profeta".
E
o contexto apenas reforça o fato de que Deus responsabiliza o homem,
ainda quando é Ele próprio a colocar a operação do erro em seu coração;
mesmo quando for Ele a enganar o profeta. E então muitos haverão de
perguntar: que Deus é esse, é um Deus injusto (Rm 9:14-16)? Não serei eu
a responder, mas a própria Palavra do Deus vivo: "... de modo nenhum! Pois Ele diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão. Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia."
Deus
tem critérios perfeitos; Ele é justíssimo. Eu não sei como o Excelso
compatibiliza essas coisas, não sei qual é a Sua lógica, porém, não cabe
a mim discutir com Ele. Entretanto, há algo que estou plenamente
convencido e disso não há quem me demova: Deus é Absoluto, não responde a
quaisquer parâmetros, é "O Altíssimo" e não há justiça que conhecemos
que possa ser comparada à dEle. Portanto, aos seus filhos cabe
obediência à Palavra, ainda que muito do que há nela seja
incompreensível à nossa limitada mente.
Continuarei
crendo nesse Deus plena e completamente soberano; que se revela a
alguns de uma forma e a outros de forma diversa; nesse Deus que elege e
salva em meio à diversidade. Crerei no Deus que determina as ações de
todas as suas criaturas, até mesmo das inanimadas. Cultuarei Jaweh em
toda a sua Eterna Glória: esse Deus maravilhoso e ao mesmo tempo
terrível.
Glória ao Seu Nome pela Eternidade!
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