segunda-feira, 27 de junho de 2011

Líderes religiosos se calam diante da crise que afeta milhões na Europa

Uma coisa muito estranha que ocorre agora na Espanha e em toda a Europa é o silêncio das religiões diante da crise econômica e política. Todas as instituições estão debruçadas sobre a crise, exceto a Igreja Católica e o Islã. Eles não se manifestam sobre como poderíamos sair deste escuro perturbador.

Sabemos bem que os “homens de religião” levantam a voz quando defendem seus interesses econômicos ou seus privilégios jurídicos ou políticos.

Por que, então, eles ficam mudos quando o desemprego atinge quatro milhões de cidadãos [só na Espanha]?

Por que nada têm a dizer sobre os direitos fundamentais dos estrangeiros, dos prisioneiros, dos doentes em listas de espera, dos jovens sem emprego ou de pessoas que vivem em situação de escravidão?

Claro, compreendo perfeitamente que as religiões não têm a solução para a crise, porque se trata de uma questão que a sociedade democrática tem de resolver. As religiões professam o Absoluto, pregam a providência divina, advogam que as soluções caem do céu, mas isso não justifica a sua neutralidade neste momento. Porque elas, como instituições, também fazem parte da sociedade.

Portanto, que ninguém diga que os homens de religião não podem se intrometer nestas questões terrenas porque lidam só com as coisas do céu. A gravidade da crise não admite a neutralidade de ninguém.

Os homens de religião não podem agora alegar que não se envolvem com assuntos da política porque, por conveniência, sempre mantiveram uma cumplicidade com os poderes governamentais, fazendo vistas grossas a tudo quanto é tipo de abusos cometidos por políticos.

A situação que enfrentamos é provavelmente o melhor teste para medir a autenticidade da religião. Não me refiro aos líderes religiosos, mas às religiões. Esclareço que não tenho a pretensão de dizer ou insinuar que há religião verdadeira e falsa, que há um Deus verdadeiro e deuses falsos.

Quando falo de religião e Deus não abordo a questão do que é ou não verdadeiro, mas sim a questão da utilidade. E não me refiro às crenças, mas à ética das religiões.

Até agora as crenças têm servido muitas vezes para nos dividir, para violar direitos e até para justificar matança. Por isso, elas não me interessam. Só posso acreditar no Deus que exige uma ética de serviço de misericórdia, que se dá bem com o ser humano e o humaniza.

A minha suspeita é de que o silêncio dos homens religiosos sobre temas tão candentes é um silêncio interessado ou cúmplice. Eles não querem perder privilégios.

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